Anarriê, Tú, balancê, caminho da roça! Quem nunca ouviu esses refrãos aí? Difícil ter alguém, não é! É através deles que, a única narradora oficial de quadrilha juninas de Nova Venécia, grita cada passo, que faz a turma de remexer no balançar do som, das festas de São João. Vera Lúcia Pereira de Souza, 67, ou melhor, a Vera da Quadrilha, é uma unanimidade quando o assunto é marcar uma das festas mais populares do país. Ela é a única oficial no ramo no município. “Para mim é uma satisfação. Em uma época dessas, chego a gritar duas quadrilhas por dia. Faço porque gosto, por satisfação, nunca cobrei, é um dom que Deus me deu e, vou levando a nossa alegria por onde somos convidados, já fomos até para outras cidades”, diz.
A quadrilheira revela que começou a marcar quadrilha aos 21 anos de idade, na rua Conceição, no bairro Beira Rio. Foi ali que tudo começou e, parece que, o que era para ser só uma diversão de bairro, tomou uma dimensão grandiosa. “Eu colocava meu toca disco, que ainda tenho guardado até hoje, e, os vizinhos vinham ensaiar, levavam as crianças, era um arraiá de rua”, conta.
A partir dali, Vera foi pegando gosto na narração das festividades juninas, e sendo convidada para ir a outras localidades. O tempo passou e, atualmente, Vera da Quadrilha tem fixo, o grupo do Centro de Convivência do Idoso (CCI) e o do Bonfim. “O pessoal convida e nós vamos nos apresentar aonde somos chamados, é gostoso demais, não tem idade e nenhum pré-requisito, basta ter a alegria no peito, vontade de dançar e ser feliz”, narra.
A narradora de quadrilha afirma também que é convidada em quadrilhas particulares de famílias, e sempre que é requisitada, lá vai ela mostrar sua arte, através dos passos que alegram o mundo das quadrilhas.
Premiações e homenagens
Para completar, Vera revela que já ganhou premiações e homenagens através das quadrilhas que comanda. “Nossos grupos sempre têm nossos ensaios antes, mas em festas particulares, chego lá, formamos os pares e, vamos no improviso mesmo. Sempre deu certo dos dois jeitos. Já ensaiei quadrilha com as crianças da Apae também, ficou perfeita e funcionou tudo tranquilo”, pontua.
Com seis ou 40 pares nas quadrilhas, a quadrilheira diz que para ela não há diferença. “Grito a quadrilha do mesmo jeito e, com mesmo carinho, independentemente da quantidade de pessoas, é assim que tem que ser”, relata.
Com tempo de cerca de 30 minutos de dança, entre os grupos de quadrilha que atua, a Vera tem sua quadrilheira mais nova, a Pietra Krugr Bonomo, 07, e a com mais idade, as moradoras do Bonfim, a dona Domingas Vilas Novas, 87 e dona Joseny Moraes, 85. “Me sinto realizada e feliz em poder fazer parte destes grupos e de ser convidada para gritar quadrilhas por aí. Essa cultura é para todos, agrega a qualquer um e, quem participa, sente a felicidade que é estar no meio”, fala.
“O pessoal convida e nós vamos nos apresentar aonde somos chamados, é gostoso demais, não tem idade e nenhum pré-requisito, basta ter a alegria no peito, vontade de dançar e ser feliz”
Com muitos passos e tradições, de acordo com a Vera da Quadrilha, o que não pode faltar durante os balançados, é o “Caminho da roça”, “caracol”, “Tú”. “Esses são passos cativos e muito esperados”, divulga.
Com diversos arraiás marcados até agosto, assim Vera vai seguindo uma tradição e, levando sua alegria por onde passa. Quando perguntado quem vai ser sua sucessora na majestosa arte de narrar quadrilha, ela diz. “Minhas filhas eu acho que não levam jeito. Acho que será a minha sobrinha, a Pietra, que é a mais nova da quadrilha. Ela ensina quem chega, ela dança, se diverte e me acompanha por aonde vou, ela gosta mesmo”, declara.
Então tá, Vera! Vai aí treinando a Pietra, para quando você se aposentar, ter uma aprendiz de Vera, em meio às festas juninas e Nova Venécia e região, mas, demore bastante a parar, pois a gente gosta da sua atuação quadrilheira, e, parabéns, Vera! Você nos orgulha por auxiliar a não deixar essa cultura mais que brasileira, acabar por aqui!