Em 2014, aos 18 anos, Letícia Meneguette Celin deixou a casa dos pais, em Nova Venécia, e foi estudar Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), campus Macaé, estado do Rio de Janeiro. Em 2019, após concluir a faculdade, iniciou a busca de um sonho: ser juíza. E agora, em 2024, a veneciana teve, segundo ela, a grande emoção de sua vida: foi aprovada no concurso público da magistratura estadual e, em 2025, passará a atuar como juíza substituta no Mato Grosso do Sul.
Letícia comenta que, ao receber a notícia da aprovação, foi impossível conter as lágrimas de felicidade. “Foi uma mistura de alívio, gratidão a Deus, alegria, empolgação. Eu sabia que era o marco do fim do sofrimento da minha jornada de concurseira e do início de uma nova fase, de muita responsabilidade e desafios, mas também o começo da realização do meu sonho profissional”.
O resultado, que saiu em setembro, chegou através de muitos esforços, comenta a mais nova juíza. “Foram anos de muita renúncia e abdicação. Muitos amigos e familiares ouviram de mim um ‘não posso, tenho que estudar’, porque a minha prioridade era realmente essa. E tudo girava em torno do meu cronograma de estudos”.
Hoje, Letícia já começou a preparação para a mudança de estado e de vida. “Estou ainda terminando de me organizar para a mudança, preparando a documentação necessária para a posse, formalizando o contrato de locação de imóvel para moradia e, em 11 de janeiro, já vou para lá. Meus pais, irmão e noivo irão em seguida, para a cerimônia da posse e comemoração, que ocorrerão no dia 15”.
Letícia é filha de Marta Aparecida Meneguette Celin e Domingos Sávio Celin, ambos servidores públicos. A mãe é analista judiciária do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo e o pai, servidor aposentado do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). É irmã de Heitor Meneguette Celin e noiva de Rodrigo Magno Silva Cabral Ferreira, engenheiro mecânico.
Cursinho preparatório para a magistratura
Durante a faculdade, Letícia estagiou na Defensoria Pública de Macaé e, em seguida, no gabinete da 3ª Vara Cível da Comarca do município. “Já na Defensoria, eu comecei a pensar em prestar concurso público após a faculdade, mas foi no gabinete que eu senti que a magistratura era o caminho que eu gostaria de seguir, pois foi onde tive contato direto com a prática da profissão”. Letícia se inspirou fortemente em seu mentor, o juiz Sandro de Araujo Lontra, tanto que decidiu seguir seus passos e ingressar no curso preparatório da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj).
A partir daí, a veneciana se inscreveu no processo seletivo da Emerj, foi aprovada e, em 2019, mudou-se para o Rio de Janeiro, capital, para dar início ao curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Público e Privado da Escola, com duração de 3 anos. Nesse interregno, Letícia também foi residente jurídica na Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE/RJ), tendo participado do programa por aproximadamente um ano.
As aulas do curso aconteciam de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h. Letícia conta que, após o intervalo de almoço, ia para a biblioteca da Emerj com um grupo de amigos para estudar e lá permanecia até o anoitecer. “Nessa época, estudava em média 8 horas por dia. Já aos sábados, diminuía o ritmo e estudava por volta de 6 horas e, aos domingos, somente o necessários para cobrir as pendências da semana. Quando, porém, atuei como residente jurídica, o volume de estudos diminuiu bastante, pois cumpria a carga horária de 30 horas semanais no estágio de pós-graduação. Por isso, decidi sair do programa e voltar a me dedicar exclusivamente aos estudos”.
Com a pandemia, em 2020, Letícia voltou a morar com os pais, em Nova Venécia. O curso da Emerj foi adaptado para a modalidade virtual e assim Letícia o concluiu em 2021. Após, continuou estudando sozinha em casa, seguindo aquele mesmo cronograma de estudos.
Tentou, tentou, até que conseguiu
Para conquistar o grande sonho de ser juíza, Letícia percorreu um longo caminho de estudos, e de tentativas em concursos também. Com muita garra e persistência, ela enfrentou muitos obstáculos e reprovações. Quantas vezes tentou aprovação até conseguir passar, ela narra: “Nossa, inúmeras. De 2019 a 2024, prestei 19 concursos públicos. A maioria foi para a magistratura, mas também prestei alguns para o Ministério Público e para a Defensoria Pública. Só comecei a avançar da primeira fase para a segunda em 2022. Durante minha preparação, fiz quase todos os concursos de magistratura estadual que abriram. Eu queria passar. Queria ser juíza. Não importava muito onde. Prestei concursos no RJ, SP, MG, SC, DF, ES, GO, PE, PR, em alguns estados mais de uma vez, até que, enfim, fui aprovada no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul”, relata.
Letícia ressalta, ainda, que tudo isso só foi possível graças ao apoio e incentivo de seus pais. “Assim que eu decidi que queria estudar na Emerj, conversei com eles sobre o sonho de ser juíza e sobre a possibilidade de eles fazerem esse esforço por mim. É muito custosa a preparação para concurso público e não sabíamos quantos anos se passariam até minha aprovação. Mas eles foram super compreensivos e me sustentaram até aqui, financeira e emocionalmente. Nunca me deixaram desanimar, mesmo depois de tantas reprovações. E sempre me impulsionaram a seguir firme em busca do meu sonho”.
Ensino Fundamental e Médio em Nova Venécia
O Ensino Infantil e Fundamental, Letícia estudou na Escola Montessoriana A Ciranda, exceto a 5ª série (atual 6º ano), que foi na Evolução. O Ensino Médio, ela estudou no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes-Nova Venécia), no curso técnico integrado em Edificações. Com a greve, a nova juíza estudou por um tempo da EEEM Dom Daniel Comboni (Estadual) e, finalizada a paralisação das aulas, voltou para o Ifes, se formando em 2013.
E lá vai ela!
Com sua posse prevista para o próximo dia 15 de janeiro, lá em Campo Grande/MS, Letícia já inicia, a partir do dia 16, o Curso Oficial de Formação Inicial da carreira, na Escola Judicial do Estado de Mato Grosso do Sul (Ejud-MS), que vai até o dia 30 de abril. “Depois, cada um dos novos juízes substitutos será designado para atuar em alguma comarca do estado, que somente saberemos mais à frente”. Durante os primeiros dois anos da carreira, os recém magistrados ficam sujeitos ao estágio probatório, a partir de quando ganham direito ao vitaliciamento e à promoção a Juízes de Direito.
Não obstante a aprovação no Mato Grosso do Sul, a filha da Marta e do Domingos revela que ainda está aguardando o andamento de outro concurso público, que a permitiria retornar ao Espírito Santo. “Em meu coração, sempre desejei ser juíza o mais perto possível de casa, para ficar próxima da minha família, mas confio muito nos planos de Deus e tenho certeza que Ele me conduziu até o Mato Grosso do Sul. E quem sabe, no futuro, eu ainda volte para a nossa terrinha?”.
Que assim seja, Letícia, aguardamos o seu retorno, e, por enquanto, a Rede Notícia te deseja toda felicidade e que você leve o nome de Nova Venécia por onde for. Boa viagem e parabéns!