Uma centenária nascida no dia 18 de outubro de 1921, moradora de Nova Venécia, e que completou no último mês, 103 anos. Foi ao som da canção de Orlando Silva, “A Jardineira”, que dona Herondina Gil de Souza Lima, com sua bela voz aveludada, recebeu a reportagem de A Notícia. “O jardineira por que estás tão triste/Mas o que foi que te aconteceu/Foi a Camélia que caiu do galho/Deu dois suspiros e depois morreu”, cantarolou.
Nascida em Jequitinhonha, Minas Gerais, a moradora do bairro Filomena conta um pouco de sua história. “Sou filha de Olímpio Crispin e Ana Gil de Souza. Meu pai morreu quando teve uma febre, e comeu uma goiaba quente do pé, minha mãe avisou a ela para não comer, ele faleceu logo em seguida”, conta.
Como ela não anda mais, mas fica sentada sozinha, além de cantar, dona Herondina deu receita de bolo, de biscoito, falou sobre os irmãos e também sobre seu casamento. Outro assunto abordado foi sobre o que a centenária sempre comeu, e o motivo de tanta longevidade. “Ela come tudo, não fazemos comida separada para ela. Adora um tutu de feijão, farofa, leite, café, biscoito, torresmo, sempre adorou e se alimenta muito bem. Ela conta que os filhos pescavam o lambari, e ela colocava para secar em cima do forno de barro, depois fritava no óleo de pequi, e ficava uma delícia, fazia arroz com pequi também”, fala a nora, Marinalva, Monteverde Lima, a Nalva.
Adepta aos carnavais de antigamente, dona Herondina e o marido, não perdiam um evento destes. Festeira, a família deduz que a alegria de estar nestes locais, também podem ter contribuído para a vida saudável da centenária, que não tem qualquer doença e apenas usa medicamento para hipertensão. “Eu dava medicação de vitaminas a ela, o médico mandou parar, pois ela já tem além do suficiente, diz ele. Aqui em casa, fazemos uso de várias medicações, e ela, está ai, nessa idade e, sem um problema de saúde, graças a Deus”, relata Nalva.
Quando perguntada à entrevistada, o que ela gostaria de comer naquele momento: “Queria um vinho”, fala. “Até pouco tempo ela tomava, parei de deixar a garrafa perto dela, senão, vai tudo”, conta Nalva, aos risos.
O casamento e filhos
Uma mulher sempre muito vaidosa, dona Herondina foi casada por cerca de 70 anos com seu Nelson da Silva Lima (In Memória), um advogado conceituado, filho de família com posses e bens, naquela época. Para comprovar, entre os documentos na casa, está uma página de formatura de seu Nelson, aonde tem entre as fotos dos alunos, o colega de formatura, o escritor, Rubem Braga.
Dona Herondina e seu Nelson casaram na região metropolitana de Belo Horizonte, Santa Luzia, e o casal, logo foi morar em Rio Pardo de Minas, há cerca de 730 km da capital mineira, local aonde constituíram família e criaram os dois filhos, José Antônio Gil da Silva, 79, e Paulo Roberto Souza Lima, 74. “Nós morávamos em um casarão, daqueles enormes, no estilo português. Mãe tinha um fogão daqueles redondos, feitos de barro, e ali ela fazia aqueles biscoitos maravilhosos, o biscoito de queijo, que hoje se chama pão de queijo e o de goma, falam atualmente chimango. Aquilo cheirava a vizinhança toda, era muita fartura e mãe, distribuía tudo que fazia, para quem morava por perto da gente”, lembra Paulo, que, orgulhoso, apresentou um telegrama que o pai recebeu, do ex-presidente eleito do Brasil, Tancredo Neves, (mas que não tomou posse por problemas de sáude), escrito: Solicito fineza, marcar com antecedência, local e dia em que terei a honra de crismar o filho do ilustre amigo”. O filho, seria Paulo: “Pai e ele eram amigos, se chamavam de compadre, mas, acabou que ele não me crismou por circunstancias de mudanças de cidade nossa, e distanciamento”, fala.
Outro fato interessante que envolveu a família lá por Minas Gerais, foi que, em uma visita do presidente Juscelino Kubitschek, lá na cidade mineira em que moravam, como o casal tinha uma vida financeira economia boa e tudo do bom e do melhor, um hotel da cidade, pediu o colchão a dona Herondina, para servir na hospedagem de JK, e foi o que aconteceu.


Chegada a Nova Venécia
O casal mudou-se com a família para Nova Venécia em 1969, já que um familiar morava aqui. A transferência para a região veneciana aconteceu após uma visita à cidade
Antes, a família morou em Vitória, e por lá, dona Herondina foi uma grande vendedora de roupa, daquelas que fazia o trabalho de porta em porta. “Eu não precisava trabalhar, mas eu gostava de fazer isso”, explica.
Dos filhos do casal, chegaram os netos: José Antônio, Cleydiane, Leidinae, Luciana, Glayson, Mizael, Marcos, e Gleyciane (In Memória), filhos do José Antônio. Já os filhos do Paulo: Lavínia e Vitor. E ainda, sete bisnetos.
Dona Herondina, por sempre ser vaidosa, fazia questão de fazer o cabelo e unhas, no Salão do Moa. “Ela era cliente fiel dele, só ele mexia no cabelo dela”, conta a nora.
Nascida em família católica, a centenária mudou para a igreja evangélica após a morte do marido. “Mas ela reza o terço quase todos os dias. Como ela não se troca sozinha, eu vou a arrumando e, ela cantando e rezando o terço”, divulga Nalva.
Dona Herondina vive sob os cuidados do filho, Paulo, e da nora, Nalva, e assim, com toda longevidade, ainda se alimentando muito bem, com a presença de familiares, dona Herondina segue a vida, em seus mais de 100 anos, faltando apenas, segundo ela, o vinho! Vida longa para senhora, e, a gente aqui de A Notícia, fica na torcida para que a Nalva, te ofereça aquele pequeno de cálice de vinho. Vai Nalva!