Como tanto se fala em inclusão, mas isso ainda, na prática, está engatinhando no Brasil, resolvemos abrir o espaço para eles, que mesmo com todas as dificuldades impostas, desenvolveram em outros campos, habilidades diversas.
De São Gabriel da Palha, o José Miguel Felipe, 29 anos, que é síndrome de down, mostra para quem convive com ele, que a arte realmente é sem fronteiras. O menino não sabe ler e nem escrever, mas toca teclado desde os 12 anos. Já o estudante da Apae de Nova Venécia, Jovaldo Lopes de Carvalho, 28 anos, é deficiente visual, e quando solta a voz, não há quem não se emocione. Na parte dos pinceis, tintas e verniz, o Roberto Carlos Biral, 49 anos, é o verdadeiro tradutor da pintura. Ele nasceu com deficiência aditiva total. Com perda parcial de locomoção, um dos orgulhos no esporte paralímpico, é o veneciano Filipe Vidoto Pereira, 12, que está em São Paulo, disputando as Paralimpíadas Escolares, conquistando até ontem, quatro medalha, três delas, de ouro.
A matéria está interessante e vale a pena. Os quatro são realmente diferenciados, mas não nas deficiências que carregam, e sim, em seus talentos!
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O teclado e a boate do Miguel
José Miguel Felipe é um desses garotos que chegou ao mundo para fazer a diferença. Filho único da dona Maria Rosário Angelo, 52 anos, o rapaz é puro talento quando o assunto é tocar teclado. Miguel é uma espécie de músico nato, e toca as canções só de ouvir a música. Uau! Toda essa história tem ainda um toque especial: ele é portador da Síndrome de Down.
Foram os 12 anos de idade, que o morador de São Gabriel da Palha, teve contato com o instrumento, quando a mãe dele, o matriculou na aula. O detalhe é que Miguel não sabe ler e nem escrever, o que não implicou em nada no aprendizado do menino, que surpreendeu inclusive o professor.
“Eu pagava as aulas com muita dificuldade, precisei parar. Mas ele continuou tocando e hoje, me pede para comprar DVD, que é de onde ele tira as letras das músicas. Infelizmente nem sempre eu posso comprar, mas ele adora”, diz Maria do Rosário.
A mãe do menino ainda conta que, ao chegar de uma festa, o filho não esquece das músicas que ouviu lá, e começa os ensaios em casa, até que a canção seja realmente tocada corretamente em seu teclado.
Para dar vida aos dias de Miguel, o forró e o sertanejo são os ritmos preferidos dele, que não passa nem um dia sequer, sem dedilhar no teclado. E tem mais, quando começa a noite, o músico liga lâmpadas de boate em casa, e ali, começa o som do Miguel. “É o que eu mais gosto de fazer na vida, tocar”, comenta ele.

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Solta a voz
Simpatia é o que não falta em Jovaldo Lopes de Carvalho. O rapaz é deficiente visual, com pequena porcentagem de visão, e descobriu no canto, a sua verdadeira paixão.
De bem com o mundo, as canções realmente ganham vida, quando saem da garganta de Jovaldo, que tem na música gospel, o carro-chefe de seu trabalho. Mas como tudo que ele se propõe a fazer é com muito prazer e dedicação, até música sobre o surgimento dos campos magnéticos, já foi encomendada pelo seu professor, para ser apresentada, em um evento da Escola Dom Daniel Comboni. Lá, Jovaldo vai interpretar também, a imortal canção Pais e Filhos, de Legião Urbana.
“Quando canto sinto a serenidade da música, me sinto tocado pelo momento. É o que mais gosto de fazer e tenho satisfação. Sempre me convidam para apresentações em eventos. Eu ensaio e o resultado final, vejo que todos gostam”, fala.
O rapaz sempre é requisitado em igrejas e festas escolares. Estuda pela manhã na Associação de Pais e Amigos dos excepcionais (Apae), e a tarde, cursa o 3° ano do ensino médio no Dom Daniel Comboni. Também pratica capoeira e é integrante da banda da Apae, tocando tarol.
Além disso, Jovaldo traz mais uma habilidade, que é com o computador, equipamento onde estuda em um programa específico para deficientes visuais. Como muitos jovens, o estudante pretende cursar uma faculdade e para isso, já fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e vai tentar uma vaga no ramo da informática.
“Minha baixa visão me atrapalha a me locomover sozinho. Mas não me atrapalha a ser quem sou, eu consigo realizar meus sonhos e levar uma vida normal. Quero ainda mostrar meu talento musical em um programa de televisão, quem sabe um dia”, explica.
Aos três meses de idade, Jovaldo teve paralisia infantil, o que acometeu parte da visão, e mais tarde, também a locomoção. O menino ficou dos sete aos 10 anos, sem caminhar, dificuldade que hoje, já foi superada.

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Pintando tudo
Se tem um ofício que, dificilmente não aprende-se sem ter dom, é a pintura. Uma leitura fiel disso, pode ser citado o veneciano Roberto Carlos Biral, que nas misturas de cores, pincel e verniz, transforma qualquer pedido em arte.
O artista é deficiente auditivo e a descoberta pela arte aconteceu aos 15 anos, idade que Roberto Carlos começou a oficializar seus trabalhos, e de lá para cá, não parou mais. A tecnologia hoje em dia, é uma das ferramentas que o pintor utiliza, para aprimorar e estudar sobre o assunto, já que não fez cursos para aprender o ofício.
Habilidade com as mãos e uma mente muito rápida, faz com que o pintor leve apenas 40 minutos para idealizar muitas de suas artes, desenvolvidas em telas, paredes, telhas e qualquer superfície requisitada. Letreiros e painéis são os trabalhos encomendados com mais frequência. Na madeira, além de tinta, Roberto também esculpe nomes, cria autorretratos e imagens sacras.
Para a entrevista, o auxílio da tradutora e interprete de libras Maria Auxiliadora Gomes, foi fundamental para o diálogo. Através dela, o pintor revelou que é apaixonado por todas as suas artes, e que a sua preferida, foi a pintura de uma paisagem.
“Misturo as tintas, trabalho com verniz também. Desenho e pinto minhas artes, é uma terapia para mim”, fala Roberto.
Roberto Carlos nasceu com a deficiência total na audição, e além de pintor, é funcionário público municipal.
“Vejo que muita gente não valoriza o trabalho do artista, e sempre quer pagar menos do que vale. Tenho essa habilidade, que na verdade, vem somar com a pessoa que sou, isso é gratificante”, relata.

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Ouros no esporte
O Filipe Vidoto Pereira está sorrindo a toa. O veneciano está em São Paulo disputando as Paralimpíadas Escolares, com início na última quarta-feira (22). O evento que levou apenas 29 estudantes capixabas, de 12 a 17 anos, é a realização do menino, que já faturou quatro medalhas na programação esportiva. Filipe ganhou o ouro na corrida de cadeira de rodas, lançamento de peso e arremesso de pelota. Já na corrida a pé, o atleta faturou o bronze. No último mês de outubro, em Vitória, o atleta ganhou mais duas medalhas de ouro, uma no arremesso de pelota e outra na corrida de cadeiras.
Filho de Jana Vidoto e Célio Lopes Pereira, Filipe faz tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte, e foi lá que os talentos do garoto foram descobertos, local onde pratica aulas de educação física.
O veneciano nasceu com mielomeningocele, defeito congênito que afeta a espinha dorsal. Filipe passou um tempo sem se locomover sozinho, mas hoje, com a ajuda de uma órtese, consegue fazer caminhadas curtas, tendo também o auxílio de uma cadeira de rodas. O menino estuda na UMEF Rubens José Vervloert Gomes, a Vila Olímpica de Vila Velha. A reportagem de A Notícia ligou para ele, o atleta estava em São Paulo, em competição. Devido aos jogos, Filipe pode conversar muito pouco pelo telefone, mas avisou que, voltará com mais medalhas e pronto para entrevistas. #estamosteesperandofilipe
