No pátio do Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio de Janeiro, uma mãe segura firme uma camisa preta que trouxe do Espírito Santo. É a mesma que pretende usar para cobrir o corpo do filho, ainda não liberado.
Fabiana Martins está há mais de 48 horas em frente ao prédio, aguardando para ver Fabian Alves Martins, de 22 anos, um dos 117 mortos na operação policial mais letal da história do Rio, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital. O corpo do jovem foi um dos encontrados na região de mata conhecida como Vacaria. Segundo as autoridades de segurança cariocas, todos os mortos tinham envolvimento com o tráfico de drogas.

— Meu filho deve estar em decomposição e não me deixam vê-lo. Estou aqui desde ontem. Só queremos levar ele para casa — disse Fabiana, com a voz embargada.
A família viajou de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, para o Rio assim que recebeu fotos e vídeos do corpo de Fabian. Segundo os parentes, o jovem foi morto com um tiro na nuca.
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— O mal dele era ser muito fiel aos amigos. Eu não conheço esses amigos dele. Mas o Fabian era bobo, trabalhava, e a nossa família não precisa de dinheiro. Não somos ricos, mas também não precisávamos de nada — contou a mãe.
Fabian morava com os pais no Espírito Santo e trabalhava com forro de PVC em uma empresa de decorações. De acordo com familiares, ele havia ido ao Rio para visitar amigos e a namorada, que mora na Penha.
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— Muito trabalhador, ele fazia de tudo naquela empresa. Aqui, conheceu a namorada e uns amigos que a gente nem sabe quem são — disse Eduardo, colega de trabalho do jovem.
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Ao lado do marido, Marcelo Martins, e da filha, Fabiana tenta respostas. Mas, segundo ela, o processo de reconhecimento e liberação dos corpos é lento e confuso.
— Meu filho está aqui já tem dois dias e ninguém nem deixa a gente reconhecer. Queremos levar ele pra casa — desabafou Marcelo.
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Em frente ao IML, Fabiana se ajoelhou por um instante e apertou contra o peito a camisa que trouxe para o filho.
— Meu filho está pelado aí. Eu trouxe essa camisa para ele. Ele é meu filho! — gritou, chorando.
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A mãe afirma ter recebido imagens que mostram o corpo de Fabian entre os mortos levados para a praça da Penha na quarta-feira. Ela diz que o jovem apresentava perfurações nas mãos e um tiro na nuca.
— Isso não é coisa de policial. Policial dá tiro na perna, não faz isso. Ele foi esfaqueado, deve ter sido pelos criminosos que estavam lá — afirmou.
Um representante do IML informou à família que o processo de reconhecimento pode levar até sete dias, devido ao estado dos corpos e à complexidade da operação.
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De acordo com o secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, pelo menos 33 dos 113 presos durante a operação são de outros estados. Somente para o Pará, a Justiça expediu cerca de 30 mandados de prisão.
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A ação, que deixou 121 mortos — entre eles quatro policiais —, foi planejada por cerca de 60 dias e teve como um dos diferenciais o chamado “muro do Bope”, estrutura usada para bloquear rotas de fuga pela mata entre as comunidades do Alemão e da Penha.
— Antes dessa operação, até o final de setembro, só a Polícia Civil havia apreendido 449 lideranças de fora do estado em cerca de um ano, fora a Polícia Militar, que também prendeu centenas — afirmou Curi.
Segundo o secretário, os dados reforçam que parte dos integrantes do Comando Vermelho no Rio veio de fora do estado para reforçar a atuação da facção na capital.
Balanço da operação:
- 118 armas apreendidas (91 fuzis, 26 pistolas e um revólver)
- 14 artefatos explosivos apreendidos
- 113 presos
- 10 adolescentes apreendidos
- 4 policiais mortos
- 13 policiais feridos
- 117 pessoas mortas, todas apontadas como suspeitas de tráfico pela polícia
*Com informações do jornal O Globo





