Médico assassinado: especialistas advertem sobre o lado sombrio dos aplicativos de relacionamento

"Na atual conjuntura é preciso desconfiar, ter um pé atrás deve ser instintivo para a sobrevivência. Mudou-se o campo de batalha do físico para o virtual, mas não menos perigoso e atrativo. A carência é um dos maiores facilitadores para este tipo de crime de oportunidade", disse a psicóloga Elizangela Alves, em entrevista para a Rede Notícia.

0
1202
Médico assassinado: o lado sombrio dos aplicativos de relacionamento. Crédito: Shutterstock

Os aplicativos de relacionamento eram populares antes da pandemia de Covid-19, mas o isolamento forçado e o pós-pandemia provocou um verdadeiro “boom” desses apps. Nos últimos dias o tema voltou a ser fortemente debatido, depois que um médico de 29 anos foi assassinado a facadas e por estrangulamento, por um homem que ele conheceu no Tinder. O caso ocorreu em Montanha, no Espírito Santo.

Na ocasião, o assassino, Carlos Magno Santos Santana, ao ser preso confessou ter matado o médico Aloísio Vieira Silva, de 29 anos, durante um encontro no apartamento do médico, em Montanha, que foi marcado por um aplicativo de relacionamento (Tinder).

Publicidade Publicidade Publicidade

Em fevereiro deste ano, um outro médico também foi assassinado no Paraná, após marcar um encontro por aplicativo de relacionamento. Renan Tortajada, de 35 anos, morava em Toledo (PR), e desapareceu no dia 17 de fevereiro. O corpo dele foi achado no dia 19 de fevereiro, em um bosque, na cidade de Umuarama (PR). O assassino foi preso.

“Na atual conjuntura é preciso desconfiar, ter um pé atrás deve ser instintivo para a sobrevivência. Mudou-se o campo de batalha do físico para o virtual, mas não menos perigoso e atrativo. A carência é um dos maiores facilitadores para este tipo de crime de oportunidade”, disse a psicóloga Elizangela Alves, em entrevista para a Rede Notícia.

O Tinder, aplicativo de relacionamento mais baixado do mundo, alcançou a marca de 3 bilhões de swipes (quando o usuário desliza a foto de um pretendente para a esquerda ou para a direita no intuito de curtir ou não) em um único dia, em março de 2020 — e bateu esse recorde mais de 100 vezes desde então.

Embora esses aplicativos tenham ajudado muitas pessoas a se conectar durante anos, alguns usuários têm tido experiências bem ruins, traumáticas até.

Isso vale especialmente para as mulheres, que sofrem uma quantidade desproporcional de assédio e abuso nas plataformas, na maioria das vezes por parte de homens heterossexuais, mas também vale para os homossexuais, igualmente sensíveis a essas práticas.

“Os aspectos mais difíceis para mim envolviam ser tratada como se estivesse sendo usada para trabalho sexual gratuito. Não é uma pessoa sensação, machuca”, diz a escritora Shani Silver, de Nova York.

Apresentadora do podcast de relacionamento A Single Serving, Silver usou aplicativos de relacionamento por uma década.

“Muitas vezes, me pediam um favor sexual antes de dizer ‘oi’, antes de me dizerem seu nome verdadeiro. A maior parte do que estava acontecendo naquele mundo para mim era desdém — muito desdém, me faziam sentir como se tivesse menos valor.”

Mensagens deste tipo proliferam entre as plataformas e afetam tanto homens quanto mulheres.

A escritora de cultura jovem Nancy Jo Sales ficou tão abalada com sua experiência nessas plataformas que escreveu um livro autobiográfico sobre o tema: Nothing Personal: My Secret Life in the Dating App Inferno (“Nada pessoal: Minha vida secreta no aplicativo de relacionamento Inferno”, em tradução livre).

“Essas coisas se normalizaram tão rapidamente — coisas que não são normais e nunca deveriam ser normais, como a quantidade de abuso que ocorre, e o risco e o perigo disso, não apenas físico, mas emocional”, diz ela, citando as experiências que viveu.

Ela adverte que nem todo mundo em aplicativos de relacionamento está tendo experiências negativas, mas tem bastante gente que está — “precisamos falar sobre os danos”, diz ela.

Já que esse tipo de comportamento desconcertante estraga a experiência das pessoas em aplicativos de relacionamento, por que interações como essas conseguem se perpetuar?

Parte da resposta está na forma como essas plataformas são policiadas, tanto pelas empresas que as desenvolvem quanto pelas estruturas governamentais mais amplas.

*Com informações da BBC News Brasil

Sobre o tema

Compartilhar

Deixe uma resposta

*