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MATILDE CLETA VEREDIANA DOS SANTOS (1932-2021): DEVOÇÃO À SANTO ANTÔNIO E ATIVISMO CULTURAL

Por Izabel Maria da Penha Piva* e Rogério Frigerio Piva**

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É com essa singela homenagem que iniciamos este quadro que intitulamos “Nossa gente, nossa História” e que visa apresentar pequenas notas biográficas sobre pessoas, ilustres ou humildes, que ajudaram a construir o município de Nova Venécia fazendo parte de sua História. Estas notas biográficas se alternarão com os demais textos que já estávamos publicando desde outubro do ano passado neste jornal.

Matilde Cleta Verediana dos Santos, carinhosamente conhecida por todos somente como “Tide”, deixou saudade naqueles que a conheceram durante os seus 89 anos de vida, sendo sepultada na tarde do ultimo dia 18 de fevereiro, após ter sido homenageada por seus parentes e amigos, no Cemitério Nosso Senhor do Bonfim em Nova Venécia.

Era uma senhora negra de origem humilde que, há mais de quarenta anos residia na Travessa Ernesto Ayres Farias, número 350, no caminho que leva à histórica capela de Santo Antônio do Córrego da Serra, porta de entrada para a APA da Pedra do Elefante.

Nascida a 10 de fevereiro de 1932, na região do Rio Preto em Nova Venécia, era filha de Francebilio Coutinho e de Dona Cleta Veridiana da Conceição Coutinho. Viveu a infância e juventude no Rio Preto, frequentando a também histórica capela de Nossa Senhora Auxiliadora do Rio Preto.

Nosso município já havia proclamado sua independência de São Mateus e o Rio Preto se tornado distrito quando, aos 30 de setembro de 1954, na Fazenda Concórdia, perante o juiz Miguel Curry Carneiro, com 22 anos, Matilde casou-se com Antônio dos Santos. Dessa união nasceram seus dois filhos: José (já falecido) e Maria de Fátima dos Santos.

Com a venda da propriedade rural da família e o próprio desenvolvimento da cidade de Nova Venécia se muda para a cidade em fins da década de 1950, vindo a residir com sua mãe, Dona Cleta, na Rua Rio Pardo, Centro de Nova Venécia. Uma vida dura e nada fácil. Enquanto sua mãe trabalhava como lavadeira de roupas, além de parteira, ela se ocupava como doméstica trabalhando em casas como a da família Daher. Anos mais tarde se tornou servidora da Prefeitura de Nova Venécia, aonde veio a se aposentar.

Sua devoção e carinho pela capela de Santo Antônio despontaram nessa época, quando já auxiliava sua grande amiga Francelina Boldrin, saudosa Dona Chula, nas famosas festas do santo casamenteiro que, no mês de junho, animava o vale do Córrego da Serra e a cidade de Nova Venécia.

Segundo dizia, seu cuidado e zelo por Santo Antônio, vinham de um pedido feito por sua grande amiga Chula antes desta morrer. E Tide tinha isso como missão em sua vida. Quando, em 1994, a pedido do saudoso senhor Zenóbio Libânio Rodrigues, o padre comboniano João Zanotto organizou a histórica capela de Santo Antônio como uma Comunidade Eclesial de Base, lá estava a Tide fazendo parte de seu primeiro Conselho Pastoral Comunitário. Tide dividia sua devoção a Santo Antônio com a Comunidade do Bonfim, onde também teve muita atuação. Era membro do Apostolado da Oração do Sagrado Coração de Jesus, Missionária e Ministra Extraordinária da Comunhão. Desde 2012 ocupava a Coordenação do Conselho Pastoral Comunitário de Santo Antônio do Córrego da Serra.

Além de seu voluntariado religioso, Tide também participava de grupos que tem por objetivo manter viva a cultura e identidade de nossa cidade, como o Grupo de Folia de Reis do Bonfim e o Grupo de Dança Afro Constância de Angola. Consciente de sua negritude era sempre presente na Caminhada do Dia da Consciência Negra. Com muita força e energia não parava nunca, e com seu exemplo e determinação inspirava os jovens.

Sua casa acolhedora, com um quintal sempre florido, era referência para todos os devotos que caminham para o Santuário da Mãe Peregrina (Gameleira) e a Capela de Santo Antônio do Córrego da Serra. Mesmo em dias de chuva ou sol intenso, lá estava a própria Tide a caminhar por quase de três quilômetros para cuidar da capela e de seu santo padroeiro. Também não poderíamos deixar de falar de seus dotes culinários, tão famosos que, em jantares e almoços promovidos por ela, padres e pessoas das comunidades não resistiam à sua mesa, sempre farta de alegria. A notícia de seu falecimento, no último dia 17 de fevereiro de 2021, tomou a todos de surpresa e, de fato, marca o virar de uma página da História na vida dos que a conheceram. Descanse em paz Tide, sua memória não será esquecida.

* Izabel Maria da Penha Piva é mestra em História pela UFES e professora de História na rede estadual em Nova Venécia.
** Rogério Frigerio Piva é graduado em História pela UFES, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES) e professor de História na rede municipal em Nova Venécia.

Referências:
Fontes Documentais:

· Livro 01-B (Registro de Casamentos) – Cartório de Registro Civil e Tabelionato de Santo Antônio do Quinze, Nova Venécia (ES).
· Livro 20-C (Registro de Óbitos) – Cartório de Registro Civil e Tabelionato de Nova Venécia (ES).
· Relatos orais de familiares e amigos.
Fonte Bibliográfica:
PIVA, Izabel M. da P. e PIVA, Rogério F. À Sombra do Elefante: a Área de Proteção Ambiental da Pedra do Elefante com guardiã da História e Cultura de Nova Venécia (ES). Nova Venécia: Edição dos Autores, 2014, pp. 131 e 132.

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