Por Anna Bustamante, Carolina Torres e Rafael Galdo – O GLOBO
Depois do ensaio turbinado de sexta-feira à noite, quando fez a festa dos fãs que batiam ponto em frente ao Copacabana Palace, a Mother Monster subiu no palco para valer neste sábado, às 22h09 — o show estava marcado para 21h45, mas o que são 24 minutos para quem esperou por 13 anos, não é mesmo? —, para delírio de 2,1 milhões de fãs (segundo a Riotur) que tomaram conta da praia mais pop do mundo nesta noite. Desta vez, com tudo que tem direito: luzes, coreografias e, claro, o figurino completo da turnê do seu disco mais recente “Mayhem”.
A entrada da cantora no palco foi recebida com reverência e atenção pela plateia, além de muita emoção, claro. Puro êxtase coletivo. Do alto de uma enorme estrutura que simulava um vestido vermelho ela, hipnotizou a plateia desde o primeiro minuto.
Assim que a diva do pop apareceu no telão vestida de vermelho e os primeiros acordes de Bloody Mary (2011) ecoaram pelas caixas de som, os little monsters que ocupavam as duas faixas da Avenida Atlântica e as areias de Copacabana foram ao delírio. A multidão pulou, gritou e ergueu os celulares para registrar o momento em que Lady Gaga dava início ao espetáculo que parou o Rio de Janeiro. E leques, muitos leques foram agitados. Em seguida, Abracadabra levantou o público. Durante a música, ela mostrou uma roupa com as cores da bandeira brasileira. Em seguida não faltou o tradicional grito de “Brasil” e um agradecimento em bom português: obrigado!
O novo hit fez Copacabana vibrar e bater leques em perfeita sincronia com a batida da música. No refrão — “Death or love tonight” — o coro dos fãs tomou conta da praia, em um dos momentos mais catárticos da noite. Na sequência, como havia feito no Coachella, no México, Gaga emendou Judas (2011), intensificando ainda mais a energia do público, que respondeu com gritos, braços erguidos e celulares no ar.
Em seguida, Gaga cantou Scheiße, do álbum Born This Way (2011). Rodeada de dançarinos em coreografia intensa, ela dominou o palco enquanto os fãs acompanhavam em uníssono, cantando tão alto quanto a musa. A faixa, com sua batida acelerada e letras em alemão misturadas ao inglês, transformou a praia em uma pista de dança a céu aberto.
Depois, Garden of Eden tomou conta da orla. Sob luzes verdes que iluminavam o palco e se espalhavam pela multidão, Gaga entregou uma performance hipnotizante, reforçando que seu novo álbum veio para ficar.
Assim que a música chegou ao fim, a multidão, em coro emocionado, gritou: “Gaga, eu te amo!”. Sem hesitar, a cantora respondeu com força e sotaque carregado: “Brazil, I miss you! Rio de Janeirôôô!”, arrancando ainda mais aplausos e gritos do público, que parecia não acreditar estar tão perto da estrela pop. Gaga, logo em seguida, emendou em “Poker Face”.
O segundo ato do show, que tem cinco partes, começou com “Perfect celebrity”. Gaga subiu uma escada e de uma espécie de sacada no cenário fez um discurso para o público brasileiro. A diva contou com a ajuda de Nicolas, que traduziu a fala da cantora para que todos entendessem. Na sacada, a diva estendeu uma bandeira do Brasil.
— Estou tão honrada de estar aqui com vocês. Meu coração está transbordando. Me sinto sortuda e profundamente grata. Hoje estamos fazendo história, mas ninguém faz história sozinho. Sem todos vocês, o povo incrível do Brasil, eu não teria esse momento. Obrigada por fazerem história comigo — disse.
Atos III e IV: um ‘baile de Gaga’
Intitulado “The Beautiful Nightmare That Knows Her Name”, o terceiro ato da apresentação começou com “Killah”, do novo disco, que passou a dar o tom da noite. Na sequência, “Zombieboy”, o hit global “Die with a smile” e o rock “How bad do U want me” (acompanhado por dançarinos com camisetas da seleção brasileira) compuseram o baile de Gaga.
A coisa ficou ainda mais animada, e ganhou contornos disco, no começo do Ato IV: “To Wake Her Is to Lose Her”, com a também nova “Shadow of a Man”. Com juras de amor à comunidade LGBTQIA+, trouxe o hino “Born this way”, para delírio da multidão.
“Blade of grass”, “Shallow” — uma das mais queridas dos fãs brasileiros — e “Vanish into you” preparavam o público para o rito final. “Da última vez em que estive aqui, ficamos amigos, agora somos família”, emocionou-se Gaga, mais uma vez.
‘Bad romance’ e fim
Ato V: “Eternal Aria of the Monster Heart”. Assim, em uma encenação dramática e de total entrega em “Bad romance”, outro hit de seu repertório, Lady Gaga escolheu eternizar sua imagem na memória de um público que correspondeu a cada pedacinho do show. Cheia de gratidão aos brasileiros, a diva americana agradeceu mais uma vez seus little monsters.
Festa desde os trilhos do metrô
A festa já começava muito antes de chegar à praia: no metrô. Apesar das composições cheias, o clima é de celebração, com bateção de leques e músicas da diva puxadas no gogó pelos fãs. As saídas da estação Cardeal Arcoverde são as mais lotadas. Na da Siqueira Campos, o fluxo é intenso, sem tumultos, no entanto. Já nas ruas, o policiamento ostensivo e a forte presença da Guarda Municipal e de uma série de serviços do município e do estado mantêm o clima de tranquilidade.
A abertura teve Pabllo Vittar atacando de DJ num palco lateral. Antes da apresentação, ela marcou presença no esquenta de um dos patrocinadores do evento. Em um hotel próximo ao local do show, a cantora e drag queen conversou com O GLOBO sobre sua participação no segundo show do projeto Todo Mundo no Rio.
— É muito louco, parece que estou tendo um déjà-vu. Ano passado com Madonna, comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz, acho que sou o viado mais sortudo do mundo — brinca.
O show estava previsto para começar às 21h45, mas desde cedo era grande o movimento em Copacabana especialmente em frente ao palco. Cerca de duas horas antes da entrada da cantora no palco, a estação Cardeal Arcoverde estava lotada. O pico de movimentação registrado nas estações de Copacabana do MetrôRio (Siqueira Campos, Cardeal Arcoverde e Cantagalo) foi por volta das 19h deste sábado. Foram mais de 27 mil desembarques, duas vezes maior que no show de Madonna.
Como esperado, houve muita fila nos pontos de revista montados em 18 acessos à praia. Sacrifício necessário em nome da segurança e, no fundo, nada que tenha atrapalhado a festa. No da Rua Siqueira Campos, como a imensa concentração de público, os policiais só param quem carrega bolsas. Vidros e material cortante, por exemplo, estão proibidos.
Poucos minutos antes do início do show a Polícia Militar liberou o acesso à praia sem revista. Fãs da Lady Gaga que chegaram para assistir à diva pop entraram correndo.