quinta-feira, maio 15, 2025
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Inclusão é o melhor caminho para lidar com o autismo

Uma das maiores preocupações dos pais quando descobrem que o filho é autista, é o futuro. Lá na frente não se sabe, mas hoje, o Leonardo Souto tem muito a comemorar.

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Uma de suas melhores amigas, a Lívia Flores Baldon Denadai é alguém muito presente em sua vida. Colegas de escola, a menina encomendou um boneco “a cara” do menino, para dar de presente.

A reportagem de hoje traz, também, uma professora de educação física que vem revolucionando o espaço da unidade onde leciona. A Cláudia Antunes Da Silva desenvolveu um Projeto e desenvolve as atividades sem nenhuma remuneração.


Diferentes olhares sobre o autismo

Aprender a se comunicar com o autista é quase que como ensinar um dialeto a um estrangeiro. Um transtorno que traz a sensibilidade a barulho, alimentos e o convívio social é o tema da reportagem de hoje, que traz a história da Lívia, que com apenas 10 anos, dá uma lição de vida a muito adulto. A menina não é autista, mas é amiga de um garoto muito especial para ela

Autismo, a reportagem é para refletir sobre o transtorno. Ter uma criança especial é sentir na pele todos os dias a dor do preconceito e exclusão. Mesmo com o mundo interessado no assunto, o Brasil ainda engatinha nesta questão. Seja no convite de aniversário do coleguinha do filho que não chega, seja no faz de conta das lições da escola, seja na falta de importância de muitos familiares, a cada dia que passa, a conta chega em muitos lares de pessoas especiais, e pode acreditar: é difícil passar muitos deles sem que algo aconteça ao redor, que não remeta ao preconceito, a falta de inclusão, o fingir que existe a inclusão. Na hora de matricular o filho diferente na escola, vagas somem misteriosamente quando a deficiência é mencionada. Muitas escolas aceitam a matrícula por medo de represálias legais, mas, desde cedo, deixam claro que “a escola não pode oferecer o que a criança precisa”. E, sutilmente, vão mandando pistas para que os próprios pais decidam retirar o filho dali.

Quando uma criança autista tem um comportamento parecido como rebelde, julgar como ser pirraça, ou mal educada pelos pais, é muito comum de quem presencia cenas deste tipo. Especialistas são categóricos ao afirmar que o comportamento é característico do transtorno, que entre outros sintomas incluem, dificuldade de comunicação, com interações sociais, interesses obsessivos e comportamentos repetitivos.

O olhar da Lívia

Indo na contramão de tudo que foi citado, existem pessoas que são e agem ao inverso dessa triste realidade enfrentada. A Lívia Flores Baldon Denadai, 10 anos, é uma delas. Mesmo que o Leonardo Souto, 8, já tendo sido personagem de uma das reportagens de A Notícia sobre o autismo em anos anteriores, ele novamente marca presença na nova narrativa, porque a história entre os dois é interessante.

Considerada uma menina tranquila e com disposição de ajudar ao próximo, a Lívia é uma das melhores amigas do Leonardo, que é autista. Os dois estudam juntos no 5° ano. A união e afinidade dos dois é tanta que, a menina pediu a madrinha, que fizesse um boneco parecido com o amigo tão querido. O pedido foi atendido e o boneco chegou com o cabelo todo cacheadinho, fofinho e a cara do Leonardo, de presente de aniversário. A mãe do menino, a professora Jackeline Souto, narra que a Lívia ajuda a acalmar o garoto sempre quando necessário e tem a iniciativa de incluí-lo nas brincadeiras e trabalhos em grupo na escola, fazendo o mesmo nas festas de aniversário. “Acho que a Lívia enxerga o Léo como criança, não vê diferença nenhuma, só um amigo querido, eles se entendem. E acredito que ela recebeu esses valores de casa, que a família a educa nesse sentido. Meu coração de mãe é só amor por ela”, diz.

Já a mãe da Lívia, a bancária Jeanne Flores Baldon Denadai, diz que a presença do Leonardo na vida da filha, é um presente. “A Lívia fala que as professoras pedem para que ajudem o Léo nas atividades, mas acho que é ele quem ensina todos os dias. Ela faz questão de participar de tudo que envolve ele, é apaixonada e muito amiga do Léo. Fico muito feliz da amizade do dois. Vejo que a Lívia vai crescendo e mudando de gostos, mas sobre o Léo, ela é a mesma coisa desde que o conheceu. Outro ponto que quero abordar é a escola que eles estudam, é inclusiva e sabe a importância nos ensinamentos de ensinar as crianças a serem futuros adultos conscientes e humanos”, relata.

» A pedido da Lívia, um boneco que é a réplica do Leonardo foi confeccionado e entregue ao amigo de presente de aniversário

Dia Mundial do Autismo

O Dia Mundial do Autismo é celebrado anualmente em 02 de abril. Em Nova Venécia a data será evidenciada neste sábado (13) com um evento na Praça Jones dos Santos Neves, a partir das 9 horas. Idealizado pela Associação de Mães Especiais (Ame), a programação tem objetivo de conscientizar a população sobre o tema.

Com brincadeiras para as crianças, caminhada, panfletagem e serviço especializado de orientação sobre o tema, a Ame também irá distribuir picolé e pipoca para as crianças.

O Dia Mundial do Autismo foi criado pela Organização das Nações Unidas em 18 de dezembro de 2007. Segundo cálculo da Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno afeta uma em cada 160 pessoas e, apesar de frequente, está envolto em incertezas sobre as causas e a evolução do paciente.


A verdadeira inclusão

Entre os obstáculos de matricular o filho que é autista em uma escola regular, a permanência da criança no ambiente educacional, é outra questão enfrentada por muitas famílias que possuem um filho com diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista. Enquanto, muitas vezes, o sistema quer fingir a inclusão, aparece a Cláudia Antunes da Silva na vida de alunos e pais, para provar que o ser humano ainda tem valor e que, vale a pena investir no outro.

Professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Drº Renato Araujo Maia, a Cláudia saiu da zona de conforto, e provou que as Portarias, Leis e papeladas apresentadas por muitos gestores por ai, são os fundamentos de quem não quer contribuir com o próximo. A professora de educação física criou o ano passado, o Projeto Eu Posso do Meu Jeito, que envolve alunos especiais da unidade. E tem mais, ela faz isso de graça. Uma vez por semana, as aulas acontecem fora do horário em que ela leciona. “Notei que os alunos especiais ficavam sempre nas aulas de educação física, apenas olhando as atividades ou sem interação. Vi que eu precisava fazer algo para incluí-los”, diz.

A partir daí, Cláudia conversou com os pais dos alunos que, de imediato abraçaram a causa. Rifa, bazar e doações foram necessários para que a professora montasse a sala especializada, e para que tivesse os instrumentos para trabalhar na quadra.

Com tudo pronto, as crianças especiais da escola participam das aulas convencionais e do Projeto. “A intenção é que eles aprendam nos dias separados a eles, e depois, participem das aulas realizadas para todos os alunos da escola, já com o aprendizado especializado que recebeu no Projeto”, fala.

E não para por aí! Para a felicidade dos alunos especiais que, geralmente não ganham medalhas nas competições, a professora criou no último dezembro, o 1° Jogos Escolares Especiais, realizado no Renato Maia, com a presença de estudantes da EMEF Prof. Claudina Barbosa e EMEIEF Lourdes Scardini. No final, todos ganharam medalha, uma ação que pode-se dizer, quase inédita para essas crianças. Além das atividades na unidade escolar, os alunos têm aulas em academias da cidade.

Apoiadores do Projeto
Academia Robusta, Performance Studio e Pilates (Jéssica e Daniel), Van do Silas e Bia, e Veneza

» Para atender crianças especiais, professora cria projeto e dá aula de graça uma vez por semana

“Agora o Davi volta da escola dizendo que é feliz. E o que sinto? Gratidão! A Cláudia está fazendo um afago em meu coração de mãe, que sofre de todas as maneiras com as dificuldades do filho. Vejo esse projeto de forma louvável e considero um avanço na Educação dessa cidade. A Cláudia faz a diferença e eleva Nova Venécia, sem receber remuneração nenhuma. A mudança depois que meu filho começou a fazer estas aulas semanais é visível, ele melhorou em casa e na escola. Apesar dele ser alfabetizado, a interação na sala de aula era menor. O Davi nunca se interessou por educação física, hoje ele ama, acelera as atividades de outras disciplinas, para não perder a aula da Cláudia. Descobri que o Davi é autista após os 2 anos de nascimento, foi uma luta até chegar ao laudo, atualmente descobrimos que o meu esposo também é autista. O Davi mudou nossa vida e a chegada da Cláudia em nossa rotina, só me fez acreditar ainda mais na inclusão e no verdadeiro amor”
Rosineide Oliosi Ramos Novaes, mãe do Davi, 7 anos

» Rosineide diz que Davi faz questão de não faltar às aulas

“O Felipe tem se divertido nas aulas da Cláudia, mais que isso, tem aprendido, tem se sentido útil. Ele já fez aula de educação física antes. Ficava correndo sozinho, sem interação. O projeto mudou a permanência do meu filho nessas aulas e levou a ele, o que nunca teve nesse âmbito. Agora ele participa ativamente, tem esse anjo que é a Cláudia, que com criatividade, boa vontade e profissionalismo, realiza as atividades com bola, túnel e outros objetos, tudo no tempo de cada um. Tivemos o laudo de autismo do Felipe quando ele tinha quatro anos, nunca é fácil, a cada dia um aprendizado. A Cláudia é um ser iluminado, virei fã dela, é uma mulher diferente, que faz a diferença, que acalenta o coração de quem nunca provou de algo como o que ela faz, ninguém fez o que ela faz para o meu filho assim, de graça, sem cobrar e pedir nada em troca”
Cristiani Braida, mãe do Felipe, 6 anos

» Cristiani relata que agora, Felipe se sente útil nas aulas

“A confiança da Maria Eduarda renasceu após ela entrar no Projeto. Quando ela não conseguia algo, ela ficava estressada, chorava, tinha crises. Agora não. Hoje em dia, diante da dificuldade, minha filha para, respira e repete as palavrinhas que ela aprendeu lá: eu quero, eu posso, eu consigo. No dia que ela chegou em casa e falou que aprendeu a dar laço, saiu dando laço em tudo pela casa, fiquei muito feliz. A Maria Eduarda melhorou em casa, na sala de aula. Ela é apaixonada pelo Projeto, já acorda eufórica no dia de ir. O laudo diagnosticando o autismo tem um ano. As dificuldades que toda mãe que tem uma criança especial em casa, são muitas. Mas Deus coloca anjos na vida da gente, e um deles é a Cláudia, que de graça, faz pela minha filha tudo isso aí. Que Deus dê em dobro a ela”
Eliane Felipe, mãe da Maria Eduarda, 7 anos

» Eliane narrou a felicidade da Maria Eduarda ao aprender dar laço
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