Na semana passada, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Criminal de Nova Venécia, denunciou à Justiça, Géssica de Sá Soto, argumentando que a jovem, agredida em uma festa no dia 15 de outubro de 2017, agiu para incriminar um rapaz por vingança nesse caso. O MPES destaca, ainda, que Géssica chegou a oferecer vantagens para uma testemunha, para que esta prestasse declarações que incriminasse o rapaz.
Em entrevista ao Jornal A Notícia, a advogada de Géssica, Jaqueline Cazoti, se mostrou bastante perplexa no que tange ao teor da denúncia. “Primeiramente, ela foi denunciada por denunciação caluniosa, quando é imputar a alguém, falsamente, um crime, sabendo que é inocente, e dar causa à instauração de um processo administrativo de índole criminal. No caso em apreço, em relação à suposta vítima apontada nesse processo, em momento algum, tanto do inquérito, quanto no momento em que a Géssica foi ouvida em juízo, ela nunca falou que a intensidade das agressões que ela sofrera, foram causadas por este indivíduo. O que ela disse foi que, num primeiro momento, antes de iniciarem as agressões, ela viu que uma pessoa corria atrás dela e tentava lhe dar uma rasteira. É claro que isso não imputaria à uma pessoa, o crime de lesão corporal e no contexto, ela vai falando no depoimento: “ato contínuo, fui agredida por A. e ato contínuo, por fim, terminou-se a agressão por B., com a última pessoa envolvida no delito, me agredindo”. Foi um depoimento por partes que ela foi dando. Em momento algum, tanto no depoimento na delegacia, quanto em juízo, ela falou que foi ele quem fez as agressões e sim que, ela viu o indivíduo correndo atrás dela, lhe dando uma rasteira e que quando ela caiu, já veio um dos denunciados no processo e começou a efetivar golpes. O segundo ponto, quanto à denunciação caluniosa, para se preencher a figura do processo penal, é necessário que o inquérito tenha sido instaurado contra o indivíduo, e ele não foi instaurado contra esse indivíduo que está sendo a suposta vítima do delito de denunciação caluniosa. Portanto, no que tange a esse tipo penal, a denúncia contra Géssica, não prospera. No que se refere ao delito do artigo 343, de oferecer vantagens a testemunha, que esse é o tipo penal incriminador, a denúncia se refere que Géssica teria pedido à duas de suas, até então, melhores amigas, que ela considerava muito e eram muito próximas, que sabiam da vida da Géssica na integralidade, frequentavam casa, dividiam sonhos, conversas e planos de vida em comum, ela disse que chegou a dizer para uma dessas pessoas: “olha, quando tudo isso na minha vida acabar, quando essa tempestade acabar, quando esse pesadelo que estou vivendo acabar, vamos fazer uma viagem, amiga”. Agora, quero que me provem em todo processo, início, meio e fim, onde está escrito ou tenha uma só mensagem da Géssica falando para ela falarem algo que ela dará uma viagem. Recebemos com muita perplexidade, porque o que nós estamos vendo aqui é uma vítima, uma pessoa que não queria receber indenização e não está fazendo nada, tanto é, que até hoje, nem entramos com essa indenização na Vara Cível, porque eu disse para ela para aguardarmos a sentença do Criminal para não correr o risco de injustiçar ninguém, no que tange a patrimônio. Ela, simplesmente, não queria ter vivido esse pesadelo e essa cena de terror na vida dela. Depois de todos esses fatos, finalmente, quando ela começa a reerguer-se na vida, vem essa notícia para colocá-la, novamente, no mesmo quadro de vulnerabilidade tal e qual quando ela sofreu as agressões. Só que as agressões não são físicas. O tapa na cara que ela toma agora, vem de pessoas que, sem saber corretamente dos fatos, estão virando o rosto para ela, que estão dizendo que ela não é digna de exercer uma profissão tão nobre, que é a de enfermeira. Eu conclamo à sociedade que analise os fatos que estou passando, porque em momento algum, nós estamos faltando com a verdade”.
Géssica também falou sobre a denúncia e pediu mais compaixão da população. “Eu recebi a notícia da denúncia quando estava no meu ambiente de trabalho. Aquilo, para mim, o chão abriu e eu não consegui trabalhar mais. Eu nunca tive um relacionamento amoroso com o citado. “Ficamos” umas duas vezes, mas nunca foi namoro. Agora, todo aquele meu esforço para me reerguer, terei que fazer tudo de novo. Tenho que processar, tenho que ser forte e passar por tudo de novo, psicologicamente. Mas o que eu mais fiquei perplexa, foi a reação da população. Ela é muito cruel, muito maldosa e muito machista. Vi cada comentário baixo nas redes sociais, que me deixou assustada e com medo. Ontem eu era a vítima e hoje eu sou a ré. Isso é você não dar oportunidade, não se colocar no lugar de outra pessoa. Eu passo constrangimentos no ônibus, no meu trabalho. Pessoas conhecidas, que me cumprimentavam na rua, viram a cara para mim. Eu vou trabalhar, e as pessoas estão com minhas fotos nos celulares, falando mal de mim. Eu peço que a população tenha mais empatia e se coloque no lugar do próximo. Ninguém sabe a luta de ninguém. Ninguém sabe o que estou passando. Estamos em um mês de campanha de prevenção ao suicídio, mas a maior assassina é a sociedade. Ela não acolhe. Ela só julga, ser preconceituosa. As mulheres agredidas hoje em dia não procuram ajuda, porque não são abraçadas, não tem o benefício da autoajuda e é crucificada. A população tem que ser mais humana. O único medo que tenho não é de dizer a verdade, mas sim, dela não ser ouvida e ser mal interpretada”.