Em entrevista à Rede Notícia, o médico José Mauro Pimentel explicou sobre a chegada do novo coronavírus no Brasil.
O profissional relatou a necessidade do isolamento social e mostrou que com erros da Itália e acertos da China, o Brasil pode fazer diferente e sair menos prejudicado do que o cenário atual vem mostrando.
Porém, José Mauro, afirma que, para que milhares de mortes não aconteçam, a única forma de prevenção, é cada um fazer seu papel e permanecer em suas residências. “Essa doença não tem soro, não tem nada que possa salvar, somente o respirador. Em toda região noroeste, temos no máximo sete. Se acontecer como na Itália, onde estão escolhendo entre idoso e jovens para usar o respirador, aqui não teremos que escolher, pois não temos respirador. Será letal, muitas mortes caso cada um não faça sua parte”.
Confira entrevista:
Coronavírus
“Estamos lidando com um desconhecido letal, não temos nada de concreto. Sabemos que a única forma de poder se livrar da doença, depois de estar no hospital, não é soro, não é outra coisa, é respirador, cada doente precisa de um”.
Respirador
“Não tem recurso, o Brasil não terá como ter. Para se ter uma ideia, na região Noroeste (exceto São Mateus), nós temos no máximo sete respiradores, cada indivíduo doente precisa de um, é a única forma que pode salvar, aqui não tem quantidade para uma pandemia”.
Confinamento
“É para ficar em casa, nada de rua, nada de bar, nada de atividade física em locais de circulação, se for praticar, vá para uma estrada rural. Precisamos ao menos ficarmos 15 dias de início confinados, para vermos como será adiante. Se sair de casa, o vírus vai circular e vamos contrair a doença. A Itália subestimou o coronavírus, e está pagando caro. E olha, eles têm recursos muito maiores que no Brasil, claro, lá é primeiro mundo. Mas quando chega uma pandemia, não há como salvar todas as pessoas ao mesmo tempo, é o que está acontecendo lá. Imagine aqui?”.
Itália
“Lá eles ignoraram o coronavírus de início, e deu no que deu. Aqui vai acontecer pior se continuarmos nas ruas, com tudo aberto no comércio e gente circulando. A Itália tem recurso, eles têm hospitais com equipamentos, e mesmo assim não estão dando conta do que estão vivendo. É uma guerra, ou o veneciano, o brasileiro, fica em casa, ou a catástrofe será muito pior do que está acontecendo na Itália. Nós aqui não temos nada para enfrentar essa doença, nem equipamentos básicos de segurança”.
Médicos europeus
“Tenho colegas médicos que moram lá, na Europa, e que estão de frente com essa tragédia. Ao conversar com eles é só choro e tristeza, eles não sabem o que fazer. Lá os idosos estão morrendo, e estão escolhendo quem vai ficar vivo, ou o idoso ou o jovem. Estão optando pelos jovens, não tem respirador para todos. Imagine como fica a cabeça de um profissional, ter que optar por isso? Não tem respirador para todos, eles estão tendo que escolher quem vai viver e quem vai morrer. Alguém aqui quer isso para si, para seu filho e família, ou prefere ficar uns dias em casa?”.
Idoso
“O idoso é a parte mais sensível dessa doença, não só pela idade, mas pelos agravantes que cada idoso tem entre doenças. A imunidade do idoso também é mais delicada. Só que aqui não teremos que escolher se é o idoso ou o jovem que vai viver. Aqui vão morrer os duas classes, não tem respirador, e a única coisa que pode salvar nessa doença, é o respirador. A presença de idosos nas ruas ainda é grande, é para ficar em casa, agora a situação é de vida ou morte”.
Crianças
“Também é complicado, criança com imunidade baixa é grupo de risco. Não adianta muito a criança não ir à escola e os adultos da casa irem trabalhar, eles vão levar a doença para dentro de casa. É para quem tem empresa, tentar deixar seu funcionário em casa, é melhor o ter vivo, resguardar a família dele, infelizmente vamos e estamos passando dias tenebrosos”.
Vírus
“O coronavírus é agressivo, mata rápido. Se tudo correr como estamos vendo, daqui uns 15 dias teremos uma explosão dessa doença, será a hora de quem se guardou em casa, ter mais chance de vida. Não há tratamento, é só prevenção”.
Crise econômica
“Já estamos tendo e vai ter de qualquer forma. Agora temos que ver se cada um vai escolher afundar em crise e depois estar vivo para se erguer, ou se vai tentar sobreviver saindo nas ruas, para daqui há 15 dias ser uma das vítimas fatais do coronavírus; e ainda levar seus filhos, familiares e amigos junto. Eu queria estar dando notícia boa, não queria falar isso, mas tenho que ser realista. Creio que se seguirmos as recomendações e os protocolos, sairemos bem dessa, confio. Mas para isso, precisamos do isolamento, é sair de casa para nada, somente para item de sobrevivência, e caso for sair, que saia uma pessoa só da família, fiquem em casa pelo amor de Deus”.
Remédio
“Não há nada. O que posso aconselhar é fazer gargarejo quente, sopa, caldos, coisas quentes. Esse vírus, pelo que estamos vendo, não é muito resistente a temperatura acima de 26° no corpo, então faça o gargarejo”.
Temperatura
“Não confunda temperaturas ambiente física calor, com infusões e ingestão de coisas quentes, não tenho conhecimento de que o vírus não suporta lugares quentes, isso nada tem a ver. Li algo a respeito de se ingerir líquidos quentes, tipo caldos e infusões, para eliminar da faringe ou para fora gargarejando ou para o estômago deglutindo”.
Duração
“Ninguém sabe, sabemos que estamos ainda no começo dessa pandemia e devemos copiar a China, pegar os acertos deles, os erros da Itália, e tentar fazer diferente aqui, estamos tendo a chance única de acertar. É duro, é difícil, precisamos do dinheiro para pagar as contas, mas precisamos fechar as portas dos estabelecimentos por ao menos uns 15 dias, e depois ver como vai ficar. Tem a forma de entrega de produto, de comida, de compras, isso para diminuir gente na rua, circulação de gente. O melhor é estarmos vivos, pensem nisso, não ande na rua, não se coloque em risco e nem arrisque a vida de quem você ama, e de ninguém. Eu não estou atendendo na clínica, cancelei tudo, quero estar vivo. Entendam que, estamos indo para uma guerra desarmados, é questão de vida ou morte, sair de casa é uma roleta russa. Não quero dizer que a doença não vá existir. Vai sim. Mas se poucos tiverem infectados, tem como talvez salvar, e a tendência do, pelo que vejo em circulação na rua, não é essa, infelizmente”.
Lavar as mãos
“Ao chegar em casa, tire as roupas sem entrar na residência e coloque num balde. Água e sabão é ideal, álcool em gel também, mas se não tiver, o sabão é o suficiente, lave as mãos, e as roupas, higiene é importante nessa hora, tomar banho logo que chegar em casa, caso tenha que sair. Lembre-se que não é hora de visita, é hora de cuidar da vida e dentro de casa. Vamos ter a vacinação da Influenza, é importante os idosos irem, e não se aglomerarem. Vacinar contra a Influenza nada tem a ver com o coronavírus, mas já vai ajudar na imunidade e preservar um pouco de outras ocasiões. Lembre-se, permaneçam em casa, agora é questão de vida ou morte, viver é o mais importante que qualquer coisa”.