
A terceira edição da Sexta Cultural que será realizada nesta sexta-feira, 10, reserva um momento tradicionalmente especial para a população de Jaguaré. Organizado pela Secretaria Municipal de Cultura, o evento desta semana vai apresentar duas expressões culturais que agradam especialmente aos jaguarenses. O Grupo Alegria irá apresentar uma animada quadrilha de Festa Junina e os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Patrimônio Nossa Senhora de Fátima irão se apresentar com a Dança do Café.
A Sexta Cultural também terá como atrações Felipe Sampaio e Banda, e a presença dos artesãos com artes e comidas típicas, além da presença da Biblioteca Pública Ana Sossai de Lima. O evento será realizado na Praça Nicolau Falchetto, a partir das sete horas da noite.
Dança do Café, o surgimento
Não há uma definição clara de quando e onde exatamente, a Dança do Café foi criada. Com a chegada de mais de um milhão de imigrantes italianos para produzir e trabalhar nas lavouras de café entre os anos de 1870 e 1920, houve um considerável aumento da produção do grão no Estado de São Paulo. Assim, a cultura do café se espalhou pelo Estado e pelo País.
Os colonos descendentes de italianos, famosos pelo seu dinamismo e alegria, amantes da música, do canto e da dança estariam por trás da criação do festejo envolvendo o café. As festas seriam, então, uma forma de comemorar os resultados das colheitas.
A dança do Café é uma representação artística do trabalho dos produtores no campo, indo para as lavouras. Durante a colheita, em determinados momentos para se distrair e divertir, havia uma pausa para brincar e dançar.
Coreografia e música
A coreografia é desenvolvida com os dançarinos em círculo e representa os gestos realizados na colheita, correspondentes aos atos de colher o café, mexer os grãos na peneira, abanar, sacudir e empilhar e, na parte final, festejam a colheita. Os dançarinos – homens e mulheres, adultos e crianças, apresentam esses gestos com dinamismo e alegria. As mulheres dançam vestindo chapéu e roupas de estopa, camisa xadrez e lenço vermelho. Os homens, trajados da mesma forma, levam instrumentos utilizados no cafezal, além de equipamentos como pilão, moinhos, e outros adereços relacionados ao café.
A professora Sâmera Brandão, que ensaia com os alunos da escola no distrito de Fátima, destaca que a manutenção das festividades com a tradicional dança reforça os aspectos culturais. “Para os alunos, como é uma tradição que foi trazida para nossa comunidade e está até os tempos de hoje, é importante que eles entendam os valores culturais dessa dança, que é passada de geração para geração, além de proporcionar um trabalho coletivo de integração social entre os participantes” afirma Sâmera, que destaca também a importância para o município o fato de valorizar os produtores rurais através da cultura do café, que é muito abundante e, segundo a professora, estabelece valores étnicos culturais em diferentes classes sociais.
A música que embala os dançarinos durante a apresentação é um jongo, “Meu Irmão Café”, de Nei Lopes, que é uma segunda opção para a Dança do Café, tendo sido incorporada à apresentação nos anos 80, por ser mais ritmada e por falar especificamente do café. A primeira versão era “Sinfonia do Café”, de Humberto Teixeira, então parceiro de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Na segunda parte da apresentação, os dançarinos bailam com a música instrumental do compositor venezuelano José Manzo Perroni, “Moendo Café”, de 1961 interpretada pelo grupo brasileiro Poly e seu Conjunto. A primeira parte é cantada e, na segunda parte, todos dançam reverenciando o café tendo ao centro da roda o pé de café.
O secretário municipal de Cultura, Elias Viana realça a importância das expressões culturais, em especial a Dança do Café, que identifica o município de Jaguaré. “A dança do Café representa fortemente o município, mas, infelizmente ainda não é conhecida por muitos jaguarenses. Por isso temos o compromisso em difundi-la. Além da dança do Café que é parte da cultura de nosso município, temos a Dança do Maneiro ou Mineiro Pau, que também é bem característico de nossa terra, além de outras expressões culturais”, ressaltou Elias Viana.
A Dança do Café em Jaguaré
Em Jaguaré, a dança do café foi introduzida no ano de 1974, através da Escola Família Agrícola – EFA, em Nestor Gomes (Km 41), quando Jaguaré ainda era integrado ao município de São Mateus. Uma professora ensinou a dança para um grupo de alunos dessa escola, que apresentaram, pela primeira vez, na festa da cidade em São Mateus.
Na ocasião, uma aluna de Jaguaré estudava na EFA, Maria Madalena Toniere. Sentindo uma forte identificação com a dança (nessa época a cultura do café já apresentava grande peso econômico e cultural na região e muito importante para as famílias), trouxe a apresentação para Jaguaré e, por ser um município eminentemente agrícola, com grande importância para o café, a dança passou a fazer parte de sua cultura. A primeira apresentação da Dança do Café foi realizada na Comunidade de Nossa Senhora de Fátima, também em 1974, com um grupo de jovens na comunidade.
“Foi uma alegria poder conhecer a Dança do Café na época em que ainda era estudante na EFA do Km 41 e ensiná-la na minha comunidade, em Fátima onde na época havia muitos jovens animados e que logo se prontificaram a aprender e, com isso, fiz parte da primeira turma da Dança do Café de Jaguaré. Não tínhamos a ideia de que a dança se tornaria referência para o município, mas, tínhamos certeza que ela mostrava algo forte pro município por causa da produção dos cafezais. Vimos que ela representava muito bem a região produtora de café”, afirma Maria Madalena Toniere destacando que, hoje Jaguaré tem a Dança do Café como referência cultural.