Durante a técnica, a consteladora vai passando por cada emaranhamento do campo sistêmico do constelado, para que, no final da sessão, fique compreensível o motivo do problema levantado no começo. Usada no processo do próprio conhecimento e na solução de conflitos em diversas áreas, a constelação foi até adotada pelo SUS
Uma técnica conhecida como Constelação Familiar ou Constelação Sistêmica cada vez mais vem sendo difundida pelo mundo e Brasil. Em Nova Venécia, a precursora a difundir a terapia, é a terapeuta Laura Cavalcanti.
A terapia que trabalha as relações de interdependência entre várias gerações familiares em busca de padrões de comportamento, vem chamando atenção até mesmo do Judiciário no país, sendo adota a técnica em tribunais criminais, de família e cível, para elucidar conflitos. “A constelação é um método isento de crenças religiosas ou de quaisquer experiências místicas ou sobrenaturais”, revela Laura.
Laura evidencia que, ‘muitas vezes temos a sensação de que há algo na vida que puxe a pessoa para trás, ou então, um assunto não resolvido, ou um problema que foi jogado para debaixo do tapete, ou um medo irracional ou, até mesmo, uma dor sem explicação: tudo pode ser o emaranhamento de uma vida entrelaçada com os seus ancestrais’. É assim que pensam os consteladores sistêmicos, indivíduos que seguem uma linha filosófica baseada nos ensinamentos do terapeuta alemão Bert Hellinger, que identificou leis naturais que agem sobre as pessoas e podem interferir na trajetória delas. “Quando estamos emaranhados com essas leis, ou seja, em desordem com elas, sofremos. E a constelação identifica a origem e colaca novamente em ordem. E nós, por amor cego, aos nossos entes queridos que estão excluídos do nosso sistema, por julgamento e crítica, damos pertencimento, repetindo novamente o seu destino, ou seja, o seu padrão de comportamento”, descreve Laura.

Surgimento
Com base na experiência com os zulus, tribo da África do Sul, durante a década de 1970, que o missionário alemão Bert Hellinger percebeu que eles tinham um profundo amor e respeito pelos ancestrais. Nesta época um padre anglicano, em um seminário, fez uma pergunta que despertou o interesse de Bert para estudar as pessoas. A pergunta foi: Entre os valores, a moral e as pessoas, com qual vocês escolheriam ficar? E esta pergunta mudou toda a trajetória de Bert, ao entender que os valores e a moral nunca poderiam estar acima das pessoas. A partir daí, ele fez cursos de várias terapias como: Psicanálise, Psicodrama com o próprio Moreno, Virginia Satir, dentre outros, etabelecendo assim as regras para a Constelação Familiar. Ao contrário da abordagem psicanalítica, que foca nas experiências pessoais e da primeira infância, Hellinger percebeu que haviam três leis, que, quando desrespeitadas, causavam uma quebra de harmonia familiar. Essas leis são denominadas Ordens do Amor, que são: Ordem, Pertencimento e Equilíbrio.
Na teoria, o assunto é complexo. Mas, quando aplicado na prática, as coisas simplificam, como garante a terapeuta Laura Cavalcanti. “Herdamos dos nossos antepassados muitas situações enfrentadas hoje. Às vezes a pessoa não sabe o por que a profissão dela não vai a frente. Isso pode estar ligado no julgamento com a mãe. Já os vícios, a ligação pode estar com o julgamento que gera a falta do pai. A Constelação Familiar trabalha e reajusta estas questões. A terapia pode ser capaz de liberar sentimentos dolorosos que marcaram um comportamento familiar e que podem estar atraindo outros membros para uma repetição em gerações posteriores.”, explica Laura.
Entender a depressão, as doenças físicas, as relações com membros da família e até a dificuldade de andar de bicicleta ou dirigir, são conflitos que podem ser resolvidos por muitos adeptos da Constelação Familiar. Laura garante que, o essencial é ter gratidão e aceitação com os destinos dos nossos ancestrais, para que os vínculos doentios possam se desfazer de forma natural e energética, sem dor, apenas com sua inclusão, ou seja, o que estava excluído agora tem pertencimento. “É bom lembrar que, tudo que acontece com cada um, também é responsabilidade dos mesmos, restando a nós não julgar os seus atos, para que fiquemos em acordo com a lei”, esclarece.
Terapia que vale a pena
Laura Cavalcanti trabalha no ramo terapêutico há anos e é categórica ao falar, que vale a pena investir nesse processo de autoconhecimento, pois as transformações na vida são gigantescas, não conhecendo outra terapia tão assertiva. “Tem gente que passa discutindo a vida inteira com a mãe e não consegue um emprego que se ache merecido. Depois de constelar, muita gente consegue saber de onde vem esse conflito e tudo na vida começa a fluir”, diz.

“Conheci a Constelação Familiar através de Laura. Fui talvez uma das primeiras pessoas que constelou com ela, já participei de alguns workshops e com certeza indico. Vivemos num momento na vida, em que o autoconhecimento é libertador e nos proporciona viver com mais harmonia e conhecimento. A Constelação nos abre o nosso campo familiar, nossas raízes, nossa mais profunda identidade conosco e com tudo que nos rodeia. É uma vivência profunda de amor, que me permitiu ver a vida de uma forma ampla com mais ferramentas, me fez entender o quão importante e maravilhoso é a minha Constelação Familiar. Nossa ancestralidade é vista na Constelação Familiar como uma fonte da qual descendemos, e que a vida que chegou até nós, veio por meio desta fonte linda de muito amor. Quando estamos diante de nossa ancestralidade, do nosso clã, das nossas raízes, percebemos o quanto estamos ligados à algo muito profundo e forte.
Delma Maia, professora aposentada
Como acontecem as sessões?
Uma constelação pode ser realizada em grupo ou individualmente. No método individual, são utilizadas representações simbólicas, que podem ser bonecos, cartas, almofadas, entre outros elementos. Nesse caso, explica Laura, ocorre uma sinergia muito grande entre terapeuta e constelado, pois o processo e as imagens internas de quem está sendo tratado podem ser atentamente acompanhados pelo constelador, por meio da observação corporal, da expressão dos sentimentos e das falas.
Já quando a terapia é aplicada em grupo, deixam-se de lado esses elementos representativos e são os participantes da sessão que simbolizam os laços familiares e as situações de conflito. Ou seja, em vez de o constelado eleger, por exemplo, uma carta, uma almofada ou um boneco que simbolize o pai, ele escolhe um indivíduo do grupo para isso.
O campo familiar que é acessado numa constelação pode ser comparado a uma consciência que contém todos os dados relevantes daquela família. Todos os representantes e participantes são influenciados, neste momento, por esse campo, independente de vontade ou escolha. “A constelação não anula nenhuma das outras terapias. Constelar significa desenvolver a postura correta para a vida, é mostrar que precisamos não julgar e aceitar as nossas origens”, diz Laura.
Onde é aplicada?
Hoje, a Constelação Familiar é aplicada em vários ambientes e situações, como na mediação de conflitos no Poder Judiciário, em escolas, empresas e até no Sistema Único de Saúde (SUS), onde foi adotada como prática integrativa. A terapia tem sido vista como uma alternativa para resolução de várias questões, tanto de âmbito familiar quanto profissional.
Em março, o SUS reconheceu os benefícios da Constelação Familiar, colocando a terapia como uma das Práticas Integrativas e Complementares (PICS) ofertadas nas unidades de atendimento. A decisão é polêmica e vai além: em 2006, os cinco primeiros procedimentos alternativos foram incluídos no PICS — acupuntura, homeopatia, fitoterapia, antroposofia e termalismo —; em 2017, mais 14 práticas entraram na lista; e em 2018, mais 10. Hoje, 29 recursos terapêuticos são oferecidos em 9.350 estabelecimentos e 3.173 municípios. A relação completa está no site do Ministério da Saúde.
O juiz baiano Sami Storch foi o precursor da implantação, da Constelação Sistêmica, nos tribunais. Foi percebido que, usar mecanismos paralelos pode ajudar no encerramento de demandas judiciais, evitando maiores traumas para as partes envolvidas, especialmente no direito de família. A utilização dessa técnica passou a se oficializar em alguns tribunais, reduzindo drasticamente o número de processos em que não se chegava a um acordo.
Formação
Pela primeira vez em Nova Venécia, abre o curso de formação em Constelação Sistêmica, ministrado pelos treinadores Laura Cavalcanti, terapeuta das PICS (Práticas Integrativas Complementares) e Clayton Resende, juiz de Direito. O curso acontecerá no Instituto Sistêmico Laura Cavalcanti, com duração de 120 horas, seis módulos, sendo realizados aos sábados e domingos, com 14 meses de duração. Ao final das aulas, formam-se consteladores, que poderão atuar na área. Informação: (27) 99914-2502.
Módulo Introdutório (Grátis)
Será realizado no dia 12 de Abril, na faculdade Multivix, das 18h às 22h, um módulo introdutório sobre o que é e como funciona a dinâmica da Constelação Sistêmica. O professor de Direito, Clayton Resende e a terapeuta Laura Cavalcanti dividirão o momento em duas partes, sendo a primeira explicativa e a segunda vivencial. A programação é gratuita.
O Instituto Sistêmico Laura Cavalcanti tem apoio para este evento, da Faculdade Multivix, Rede Notícia, Hospital São Marcos, e Prefeitura de Nova Venécia, através do Secretário de Saúde, André Fagundes.