quinta-feira, dezembro 12, 2024
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Centenas de entidades condenam invasão da PM em igreja após críticas de padre no ES

Policiais militares e cães entraram sem autorização em espaço da Igreja Católica. Ação aconteceu após críticas de padre à corporação.

Centenas de entidades divulgaram um manifesto neste domingo (23), data em que também foi realizada uma missa, em protesto à atuação da Polícia Militar nos últimos dias, em entrar nos perímetros da Paróquia Madre Teresa de Calcutá, no bairro Itararé, em Vitória, no Espírito Santo, sem ordem judicial, após críticas do pároco, padre Kelder Brandão.

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A ação da PM sem ordem judicial vem depois de críticas tecidas pelo pároco da igreja, padre Kelder Brandão, à Secretaria de Segurança Pública por constantes operações policiais violentas e com mortes nas comunidades do chamado Território do Bem, do qual fazem parte os bairros da Penha, Itacaré, Bonfim, São Benedito, Consolação, Gurigica, e as comunidades do Jaburu, Engenharia e Floresta.

O manifesto assinado por mais de 100 entidades, divulgado neste domingo (23), diz que desde que chegou ao Território do Bem, padre Kelder Brandão “se embrenhou em cada rua, becos, vielas e escadarias dessa comunidade. No cotidiano desse povo, se somou à potência de vida que brota do morro e que não suporta mais a morte de seus filhos, a violência, a opressão, o racismo, a fome, a desqualificação da vida na periferia e a indigência. Sua voz tem se levantado, junto com os moradores dessa região, dia após dia na cobrança do Poder Público e em defesa dessa e de todas as comunidades periféricas cujas realidades de opressão se repetem”.

O documento diz que “em função disso, ameaças e retaliações têm sido recorrentes na vida do Padre Kelder e da população mais pobre dessas e de outras regiões de periferia, mas têm se intensificado nos últimos dias. E isso exige de cada um de nós uma posição ético-política em defesa do trabalho e da vida do Padre Kelder e dos moradores do Território do Bem”.

Missa em protesto

Na manhã deste domingo (23) foi realizada na paróquia uma celebração, presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória, dom Andherson Franklin. Em sua fala na missa, o padre Kelder criticou a ação da Polícia Militar, que segundo ele, está acostumada a invadir espaços sem ordem judicial, principalmente nas casas dos mais pobres.

“Hoje, escandalizados como discípulos, transformamos, o escândalo em um ato de desagravo a uma ação obscena, ilegal e imoral da Polícia Militar, que com portões fechados e na calada da noite, entraram neste espaço fortemente armados e com cães farejadores, sabe-se lá para que ou procurando o quê e para quê. Não apresentaram nenhum mandado judicial. Não conversaram com ninguém da comunidade e nem com o padre”, disse o pároco Kelder.

Neste domingo (23), durante uma missa em São Paulo, o padre Júlio Lancellotti manifestou apoio ao padre Kelder Brandão. “Queremos manifestar todo nosso apoio ao Padre Kelder que está sendo duramente perseguido por estar do lado dos pobres. Quero pedir ao ministro de Direitos Humanos, o ministro Silvio, que tenha especial atenção aos defensores de Direitos Humanos, o Brasil é um dos países do mundo que mais mata defensores de Direitos Humanos. O Brasil mata o povo negro, mata os grupos LGBT+, mata os pobres, mata os defensores de direitos humanos, mata as mulheres”.

A Rede Notícia cobrou posicionamento da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), da Polícia Militar e da Polícia Civil.

Por nota, a PM informou que “a equipe do Batalhão de Ações com Cães da Polícia Militar foi acionada, por volta das 11h do último domingo (16), para checar uma denúncia de que bandidos estariam escondendo, possivelmente, drogas e armas dentro de muros em uma rua do bairro Itararé, em Vitória. A equipe esteve no local e realizou a checagem das informações, com uso dos cachorros, no sentido de tentar encontrar qualquer material ilícito, tendo permanecido no local, que fica nas imediações da paróquia Madre Teresa de Calcutá, por cerca de 40 minutos. Nada foi encontrado e os policiais retornaram à unidade”.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou, por nota, “que não há qualquer tipo de ação coordenada ou que tenha como intuito gerar constrangimento ou coação contra o religioso, ou qualquer cidadão correto.” Segundo a Sesp, “a paróquia está localizada em uma área de intenso tráfico de drogas, dentro do Território do Bem, e na rota de circulação de criminosos que causam prejuízo a toda aquela comunidade, sendo missão intrínseca das forças policiais, localizar, prender e levar à Justiça todos aqueles que atentem contra o Estado Democrático de Direito”.

A Polícia Civil não deu retorno.

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