Existem pessoas que, mesmo levando uma vida comum, rotineira, traçando um percurso quase parecido ou igual a maioria da população, decidem largar tudo e assumem a missão de servir ao próximo. Foi justamente isso que aconteceu na vida da dona Givalda Oliveira Costa, 72 anos, que preferiu colocar na frente de todos seus afazeres e responsabilidades, a missão de ajudar os mais necessitados.
Há mais de 23 anos, dona Givalda corta, costura e borda roupas infantis e principalmente, de bebês. Costureira de mão cheia, era ela quem fabricava as roupas dos filhos quando pequenos. O dom serviu para que a dona de casa adquirisse três máquinas de costura. É lá, num quarto pequeno com os equipamentos, que saem as vestimentas para os pequenos.
“As primeiras roupinhas de bebê que costurei, anunciei no rádio, que era para as mães necessitadas virem buscar. Depois disso não parei mais. Tem gente que não tem nada e eu posso ajudar, faço com carinho, é de coração. De retalhos, roupas velhas que me doam, aproveito tudo, e fabrico cada peça”, diz ela.
O chamado para confeccionar as peças, de acordo com dona Givalda, veio de um pedido de Nossa Senhora. “Eu não a vejo, mas sinto, ouço. Nossa Senhora fala comigo de várias formas. Além das roupinhas, faço a oração com as gestantes, para que elas tenham um bom parto”.
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Voto de pobreza
Há mais de 20 anos, de acordo com dona Givalda, dois episódios marcaram sua vida. Um deles, foi a doença de um de seus filhos, que ficou muito acamado, com um uma espécie de abcesso na boca, algo que só aumentava e ninguém sabia o que era.
“Meu filho sofreu muito, sentia muita dor. Fiz a promessa de que se ele melhorasse, íamos fazer um almoço para 12 pessoas carentes, igual na Santa Ceia de Jesus. E foi o que aconteceu, ele melhorou e um ano depois, fizemos o almoço. Fui nos bairros mais carentes, convidando as pessoas”, conta
Mas as iniciativas em torno da fé para dona Givalda, ainda estavam poucas. Foi então, que segundo ela, recebeu o pedido de Nossa Senhora, para que olhasse ainda mais para os mais necessitados.
“Fiz o voto de pobreza e prometi viver para ajudar ao próximo. Foi nessa data, junto com a promessa do meu filho, que decidi seguir esse caminho, andar somente de branco e sempre com uma flor na mão, que é para Nossa Senhora”, explica.
Para quem não sabe, a casa de dona Givalda vivia lotada de pessoas humildes, que não tinham nem o que comer. Através de rifas e doações, a aposentada conseguia matar a fome de muita gente, que batia em sua porta. Foi através de muita peregrinação, também vendendo bilhetes de rifa, pedindo dinheiro e roupas para os menos favorecidos, que a missionária conseguia tudo que precisava, para quem não tinha. A missionária também vendia peças usadas de doações. Era através desse dinheiro arrecadado, tanto de bazar, quanto de rifas e doações, que a aposentada ajudou a aumentar as dependências de uma igreja e construir outra, em Nova Venécia.
“Hoje em dia parei com as rifas e também não ando nas casas pedindo. Nossa Senhora me avisou, que as doação chegariam até minha casa, muita gente entrega roupas usadas, que utilizo para fazer as vestes das crianças, cobertores e roupas usadas. Mas antes, eu já cheguei a distribuir 60 cestas básicas. Hoje já tenho idade avançada”, explica.
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Santuário
Além de um anexo para o quarto de costura, dona Givalda construiu um pequeno quartinho na garagem de casa, que virou um Santuário para ela. Ali, muitas fotos, papéis com escritos à mão, de pedidos de orações e milagres. São pessoas que entregam e levam ao Santuário. Também, imagens de Santos, inclusive uma centenária de Nossa Senhora, que era da bisavó e outra da mãe da aposentada, permanecem intactas no ambiente católico.
No local, todos os dias as 15 horas, acontece a reza do Terço, momento aberto a qualquer pessoa que queira dedicar seu tempo a Jesus e as Orações. “Recebo muita gente aqui nesse cantinho. Vem pessoas com pedidos de todas as formas e muitos, depois voltam para agradecer a graça alcançada. Todo mérito ao nosso Senhor Deus e Nossa Senhora”, afirma.
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Vida em família
Dona Givalda e o ex-marido, o Cantidio José Costa, tiveram 11 filhos, sendo que um deles, morreu em um acidente automobilístico. A família começou a ser erguida no município de Itamira, Mucurici. Foi logo depois de casada, que a missionária, começou a apresentar mudanças em sua vida espiritual.
“Era um chamado de Nossa Senhora, às vezes eu sentia meu corpo adormecer e eu só queria pregar a palavra do Senhor. Por conta disso, acharam que eu estava doida, fiquei internada e até choque na cabeça, levei. Depois que comecei a fazer caridade, que fiz o voto de pobreza, tudo se resolveu. Mas muita gente não vê isso com bons olhos, acham que sou doida ainda”, descreve.
Em Nova Venécia, os Oliveiras estão há cerca de 38 anos, e foi sempre desta maneira, que a aposentada se comportou, fazendo o bem ao próximo e levando oração a quem precisa.
Uma curiosidade que a missionária tem em casa, é uma caixa, com mais de 300 flores de pano, confeccionadas por ela mesma, para serem entregues no dia de seu enterro. “Fazem lembrança para tudo, casamento, batizado. Eu já fiz para o dia do meu velório, e quero que sejam entregues. Representam, as flores de Nossa Senhora”.
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A fé
Dona Givalda classifica a fé como algo de maior importância de sua vida. Pela devoção, é frequentadora assídua da igreja, pertence a comunidade Santa Mônica, paga o dízimo, é ministra, e participa de vários grupos católicos, inclusive: Mães que Oram pelos Filhos, Pastoral da Saúde no São Marcos e Sagrado Coração de Jesus.
Além de frequentar as igrejas na cidade, a aposentada realizou um grande sonho, e visitou o Santuário de Fátima, em Portugal.
Questionada sobre o motivo de ter mudado a vida, em prol da caridade, dona Givalda é categórica. “Necessidade de atender um pedido de Deus, de Nossa Senhora, é isso que me faz ser o que sou”.
