Sereno, centrado e alegre. Assim estava o governador Paulo Hartung na última quarta-feira, ao receber diretores dos jornais que compõem a Associação dos Diários do Interior do Espírito Santo (ADI-ES). Nem parecia que, dez dias antes, tomara decisão que virou ao avesso o processo pré-eleitoral no Espírito Santo.
Não concorrer foi ato amadurecido – dizia isso antes mesmo de assumir o atual mandato, basta olhar as entrevistas da época – daí a serenidade. Não há, na sua saída, preocupação com eleições acirradas. Nem faria sentido. Afinal, disputou várias delas para chegar onde chegou. Uma breve remissão na história mostra isso.
Concorreu com os ex-governadores Élcio Álvares, na eleição ao Senado, após perder nas convenções para José Ignácio a indicação para competir pelo governo, e Max Mauro, na primeira eleição ao governo; Sérgio Vidigal, à época o prefeito mais bem avaliado do Espírito Santo na reeleição e, finalmente, o então governador Renato Casagrande, na volta ao poder em 2014. Hartung enfrentou gigantes. E venceu.
Também não é sua saúde que o tira do pleito. Há um ano e meio passou por cirurgia para a extração de câncer na bexiga. Desde então, faz tratamento para evitar a reincidência da doença. Está na metade do processo, que dura três anos, mas esbanja disposição para viajar o Estado inteiro, numa agenda incompatível com a de quem tema ou tenha qualquer debilidade.
Mas, se não é problema de saúde, nem de medo das urnas, por que então o governador que tem 60% de aprovação em sua gestão, com 41% de bom ou ótimo – um luxo em tempos que políticos estão em baixa – não estará na linha de frente para defender o seu legado?
Parte da resposta está no desgaste natural de quem desde a época de estudante está na política e já exerceu todos os mandatos possíveis no âmbito de seu estado. Alguém que pegou o Espírito Santo das mãos do crime organizado e o entregou saneado, oito anos depois. Que reassumiu o comando do Estado durante a pior crise política e econômica da história do país e o transformou em referência de gestão e resultados em meio a quebradeira generalizada que atinge unidades federativas muito mais ricas e poderosas.
Hartung não está alheio ao processo eleitoral. A diferença é que, desta vez, por opção, não está no comando dele. Espera que os partidos aliados encontrem nome e o apresentem para que então avalie sua participação e apoio. Mas, centrado, não faz disso o ponto principal de suas preocupações.
Sua alegria está no orgulho pelo que já fez – é um dos políticos mais expressivos da história do Espírito Santo – e pelo que ainda fará antes de encerrar o governo e seu ciclo de disputas eleitorais.
Além do ajuste fiscal – vai entregar o Estado saneado e, novamente, com dinheiro em caixa – tem também feitos inovadores na área social: Escola Viva, Pacto pela Aprendizagem, Rede Cuidar, Ocupação Social. Prova, acredita ele, de que é possível ter responsabilidade fiscal, sem descuidar das pessoas.
Seu modo de gestão, hoje, possibilita investimento pulverizados pelo Estado. Não há um só município sem uma obra de vulto. E, com o crescimento da receita, pode ser que outras intervenções importantes sejam iniciadas neste ano.
Assim como foi incompreendido no começo da gestão, seu gesto dá azo a teorias variadas. Mas, ao fim, tenta inspirar a juventude a ocupar o espaço político, no momento em que diz que a política está sombreada e que manifestações favoráveis à intervenção militar no país ganham força. “A democracia é o caminho”, afirma.
Fonte: Jornal Espírito Santo de Fato