Foram mais de cinco décadas sem nenhum contato, até que veio a descoberta e, a moradora do bairro Altoé pode, novamente, abraçar e olhar para a filha, que veio do Pará, ao encontro da família biológica
A história de hoje daria um enredo de um filme, através da vida da dona Judite Prates de Abreu e família. Quando ela morava no interior, em Gaviãonzinho, em Minas Gerais, de acordo com ela, as necessidades da vida a fez doar duas, dos seus 16 filhos. Uma delas é a Dalci, que foi entregue para uma família aos dois anos de idade, e nesta semana, chegou a Nova Venécia para reencontrar a mãe biológica, os irmãos, sobrinhos e primos. Imagine a alegria após uma busca de anos? “Quando desci do carro, eles estavam no portão, na rua me esperando. Que emoção! Chorei muito de alegria, procurei por eles a vida toda e agora, o grande dia chegou. Para mim, foi a primeira vez que vi minha mãe, não tinha recordações de nada, de ninguém aqui”, falou Delci, que hoje se chama Nicilene Soares de Abreu, 57 anos.
Durante os quatro dias que durou a viagem, aqui em Nova Venécia, a família conta que, não sabia quem estava mais ansioso, reações percebidas durante entrevistas da reportagem de A Notícia, dando o destaque, claro, para a dona Judith, mãe que não via a filha há 55 anos. “Lembro dela ainda bebê, claro, e nunca esqueci da minha filha, somente não foi possível ficar com ela, infelizmente, as condições financeiras me fizeram tomar a decisão de entregá-la para uma família cuidar dela. Quando ela chegou foi uma felicidade grande, ela é muito parecida comigo”, conta emocionada, dona Judite.
O reencontro
Nicilene conta que, como sempre procurou a família e não encontrou, teve sorte e as mãos de Deus, na última tentativa. “Uma amiga que desempenha trabalho de busca de pessoas que não têm contato mais com suas famílias de origem, foi quem encontrou minha família biológica. Com três dias que entreguei meus documentos, ela encontrou minha família atrvés do Cartório Eleitoral, foi então, que ela descobriu o telefone de Nilza e fizemos o contato. A partir daí, mantivemos contato por seis meses e agora, vim encontrar com minhas raízes”, explica.
Ao chegar à casa da mãe biológica, no bairro Altoé, encontro que aconteceu essa semana, Nicilene, que veio com o esposo, o Geraldo, o genro, o cunhado e a esposa do cunhado, encontraram alegria, emoção e uma mesa farta. “Fizeram um tanto de comida e adorei o sabor, uma delícia. Tinha arroz, feijão, galinha, macarrão, lasanha e por ai vai”, falou Nicilene.
Quatro dias de viagem foi o tempo que os quatro gastaram até o reencontro, e para isso, compraram até um carro, veículo utilizado para a viagem do Pará, até o município veneciano. “Viemos parando e meu cunhado e esposa têm parentes em Água Doce do Norte, ficamos lá também”, conta.
Uma outra irmã da Nicilene, a Conceição, 51, que não era nem nascida ainda quando a Nicilene foi embora, também está radiante com o primeiro encontro. “Eu estava muito ansiosa, nervosa, está sendo bom demais, nós sempre procuramos por ela. Por onde eu passava e via alguém com nossos traços, já perguntava se essa pessoa tinha sido adotada. São anos de procura e espera e, graças a Deus, a chegada desse grande dia aconteceu”, comemora.


A Adoção
Com uma família grande e poucos recursos, dona Judite, que foi casada com o pai de seus 16 filhos, o seu Geraldo Soares de Abreu (In Memória), entregou a Delci para adoção, e também, outra bebê na época, só que para outra família. Desses filhos, seis faleceram.
A mudança do casal e dos filhos para Nova Venécia aconteceu há cerca de 40 anos, e a vinda, foi em busca de novas oportunidades. “A vida estava muito sofrida, eu não tinha condições de criar todos os filhos, mas sempre estive em busca de saber onde elas duas estavam. Uma delas, eu já sabia que estava em Minas Gerias, mas a outra, eu não sabia, nunca mais soube de nada”, fala dona Judite.
A vida depois da adoção
Hoje aposentada, casada com Geraldo Justino de Jesus, o casal tem três filhas, quatro netos e moram em Uruará, no Pará, onde possuem uma propriedade rural. “Até os 14 anos eu morei com a minha família adotiva, no Maranhão, o nome dela era Santa e o dele, seu Pedro, já falecidos. Depois disso, eu fui para São Paulo, com uma irmã dela, e fiquei por lá até os 18 anos. Quando voltei, cuidei minha mãe adotiva até ela ir embora desse mundo, lá no Maranhão”, explica Nicilene.
Já a Certidão de Nascimento da Nilcilene consta o nome dos pais biológicos. “De documento, eu só tinha o de Batismo, lá meu nome era Dalci, troquei aos 18 anos, quando fiz minha certidão. Estou amando conhecer minha família biológica, sou muito parecida com minha mãe, a cara. Sobre ela ter me entregue para outra pessoa, eu entendo, isso está bem resolvido. Só quero aproveitar o tempo de estar com ela e com os outros, minhas irmãs, sobrinhos. Está sendo muito bom, pena que não poderei ficar muito tempo, mas, agora, não deixaremos de nos ver. Realizei um sonho”, finaliza.