Para homenagear as mulheres, a reportagem de A Notícia escolheu uma mulher comum, porém, especial. Vista pelas ruas usando um colorido chapéu em formato de sombrinha, Albina tinha tudo para trilhar caminhos que não fossem da independência e do empoderamento, mas resolveu, buscar o que queria. Entregue quando criança para adoção, sem certidão de nascimento, ela cresceu, foi faxineira, fez Magistério e por fim, exerceu a carreira que a traz tanto orgulho, a de vacinadora, da Secretaria Municipal de Saúde
O nome dela é Albina Pereira, reconhecida muitas vezes na cidade, por andar com chapéu todo colorido, em formato de sombrinha. Tampando a cabeça do sol, ela vai esbanjando alegria e autenticidade por onde passa, tanto que, de vez em quando, tira uma seringa da bolsa, e, fazendo uma espécie de brincadeira, ela levanta a seringa e, simula aplicar uma injeção no conhecido que encontra pela rua. Isso por que? Albina fez história na Saúde veneciana, e atuou por muitos anos, na sala de vacina do Unidade de Saúde Angelo Piassarolli, no bairro Margareth.
Era ali que, aquela mulher que tinha tudo para não buscar objetivos na vida, andou além do tempo, e mesmo com tudo podendo ir contra ela conseguiu ser exemplo para muitas mulheres, mesmo que na época, não se ouvia falar sobre empoderamento. Mas Albina, emponderou-se. Começou a sua vida de trabalho fazendo faxina na casa de famílias, e estudou. “Ela fez até aquele quarto ano do Magistério, que tinha na época, se formou, tem ensino médio”, fala a professora, Vera de Angelo Nascimento, que é quem auxilia Albina atualmente.
De acordo com Vera, Albina, que já está aposentada, iniciou o serviço no centro de saúde do Margareth, fazendo limpeza. “Depois disso, ela começou a aplicar as vacinas. Acho que não tem quem não a conheça por ali. E tem uma coisa, ela não trabalhava somente ali dentro, Albina serviu à saúde além, ela ia à casa das pessoas que não podiam ou que por algum motivo, não compareciam para tomar as vacinas. Ela sempre foi muito solidária, prestativa, humana”, fala Vera.
Conhecida na cidade também por fazer uma maravilhosa bala de coco, Albina já fez história com esta guloseima, doce que já esteve presente em muitas festas de vencianos. Como ela aprendeu a fazer a especialidade? “Aprendi com a mãe da Vera, que foi uma das pessoas que me criou. Ela fazia e colocava na bacia para cortar, era desse jeito , a receita trago dela”, fala Albina.
Presença cativa em todas as missas das 7h30 da Matriz São Marcos, a vacinadora também participa do grupo de Folia de Reis, do bairro Bonfim.
Moradora da rua em frente a Padaria Gasparini, da rua Colatina, Albina, apesar de ter sua casa, vive mais na residência da Vera, que é ao lado. “Ela dorme lá em casa todos os dias, e como foi minha família quem a criou, hoje me sinto na responsabilidade de dar continuidade o que minha mãe, avó e tia fizeram por ela, sei que é minha missão. Ela está com uns probleminhas de saúde, e do mesmo jeito que sei que meus familiares fariam por ela, estou fazendo. Para mim ela é minha irmã”, explica Vera. “Ela anda com essa seringa, eu acho, que para lembrar o tempo dela de serviço, Albina é muito engraçada, divertida. Se você faz algo que ela não gosta, ela tira a seringa e diz que vai dar vacina”, fala Vera aos risos.

Origens
Albina Pereira chegou à Fazenda Santa Rita, na Serra de Cima, junto com mais dois irmãos, levada pelo pai. De acordo com a Vera, a família conta que Albina devia ter uns quatro anos de idade e pouco sabia falar ainda. Sem registro de nascimento, a menina ficou por uns dias na casa de dona Fitinha, dona da propriedade na época, local onde hoje mora dona Ecila. “Ela ficou uns dias ali, até minha tia Neide ir buscar, ela era a mais nova dos irmãos, eu acho, e minha tia, quis ficar com ela”, conta Vera.
De acordo com a professora, a tia e a família moravam por ali, na região. “Minha tia precisou mudar, e Albina ficou um tempo com minha avó, com minha mãe, depois voltou a ficar com minha tia de novo. Nossa família sempre cuidou dela e, muito bem. Sei que quando o pai dela aparecia lá pela roça na Serra de Cima, ela se escondia, acho que com medo de ele a levar embora”, narra.
Vera conta que a família mudou uma época para Santo Izidoro, antes de vir para a zona urbana veneciana. “Depois que viemos para cá, aqui dentro de Nova Venécia, ela veio junto com a gente, minha mãe trouxe. Sobre a idade dela, como ela não tinha Certidão de Nascimento quando ela chegou para ficar com minha família, ela foi registrada com a idade que achavam que ela tinha, e hoje, no registro dela, constam 72 anos”, revela.
Já os familiares, Albina só tinha contato com o irmão, o Euzébio, que já faleceu. “Mas os sobrinhos dela, ela os vê, de vez em quando ela vai para Vitória, visitar, mesmo após a morte do irmão. Já a irmã que foi deixada junto com ela na infância, o nome é Laurita, mas nunca soubemos dela “, diz vera. “Ela não tem filhos, ficou pouco tempo casada e então, a família dela somos nós, jamais a deixarei”.
Para finalizar, para deixar registrado, A Notícia lembra que, o empoderamento feminino acontece no dia a dia, e através de conquistas individuais ou coletivas, pequenas ou grandes. É através da Albina, uma mulher simples, de muitos risos, muitas conversas e muitos amigos, que abordamos a data, que é de muita importnacia e reflexiva. Albina, obrigada por nos contar a sua história, por ter sido tudo, quando o tudo, talvez, era tão pouco!
